Mas em vez de subir ao seu quarto, Valentine, logo que saiu, meteu pelo corredor, transpôs a portinha e correu para o jardim. No meio de todos os acontecimentos que acabavam de se amontoar uns sobre os outros, um terror surdo oprimira-lhe constantemente o coração. Esperava de um momento para o outro ver aparecer Morrel, pálido e ameaçador como o laird de Ravenswood no contrato de Lucie de Lammermoor.
Com efeito, era tempo de se dirigir ao portão. Maximilien, que desconfiara do que se iria passar ao ver Franz deixar o cemitério com o Sr. de Villefort, seguira-o. Em seguida, depois de o ver entrar, vira-o sair novamente e regressar com Albert e Chateau-Renaud. Para ele, não havia portanto mais dúvidas. Correra então para o seu cercado, pronto para o que desse e viesse, e certo de que no primeiro momento de liberdade que conseguisse, Valentine correria ao seu encontro.
Não se enganara; com efeito, de olho colado às tábuas, viu aparecer a jovem, que, sem tomar nenhuma das precauções habituais, corria para o portão. Ao primeiro olhar que lhe deitou, Maximilien ficou tranquilo, e à primeira palavra que ela pronunciou. saltou de alegria.
- Salvos! - disse Valentine.
- Salvos! - repetiu Morrel, sem poder acreditar em semelhante felicidade.
- Mas salvos por quem?
- Pelo meu avô. Oh, ame-o muito, Morrel!
Morrel jurou amar o velho com toda a sua alma, juramento que lhe não custava nada fazer, pois naquele momento não se limitava a amá-lo como um amigo ou como um pai, adorava-o como um deus.
- Mas como foi isso? - perguntou Morrel. - Que meio estranho empregou ele?
Valentine abria já a boca para contar tudo, mas pensou que havia no fundo de tudo aquilo um segredo terrível que não pertencia exclusivamente ao avô.
- Mais tarde contar-lhe-ei tudo - respondeu.
- Mas quando?
- Quando for sua mulher.
Era colocar a conversa num pé em que Morrel era capaz de entender tudo. Por isso, entendeu mesmo que se devia contentar com o que sabia, e que era bastante para um dia.
No entanto, só consentiu em se retirar depois de ter a promessa de que veria Valentine no dia seguinte à noite.
Valentine prometeu o que Morrel quis. A seus olhos tudo mudara, e claro que lhe era agora menos difícil acreditar que casaria com Maximilien do que convencer-se uma hora antes que não casaria com Franz.
Entretanto, a Sr.ª de Villefort subira aos aposentos deNoirtier. Noirtier olhou-a com o ar sombrio e severo com que costumava recebê-la.
- Senhor - começou ela -, escuso de lhe dizer que o casamento de Valentine foi desfeito, pois foi aqui que o rompimento se verificou.