- Não se assuste, Sr. Noirtier - disse Avrigny. - Vou levar o doente para outro quarto a fim de o sangrar. Na verdade, este tipo de ataques são um espectáculo horrível de ver.
E segurando Barrois por baixo dos braços, arrastou-o para um quarto contíguo. Mas quase imediatamente regressou ao de Noirtier para se apoderar do resto da limonada.
Noirtier fechava o olho direito.
- Valentine, não é? Quer Valentine? Vou dizer que lha mandem.
Villefort subiu. Avrigny encontrou-o no corredor.
- Então? - perguntou o magistrado.
- Venha - convidou-o Avrigny.
E levou-o para o quarto.
- Continua sem sentidos? - perguntou o procurador régio.
- Está morto.
Villefort recuou três passos e juntou as mãos mais altas do que a cabeça, numa inequívoca prova de comiseração.
- Morreu tão rapidamente... - disse, olhando o cadáver.
- Sim, demasiado rapidamente, não é verdade? - confirmou Avrigny. - Mas isso não o deve surpreender: o Sr. e a Sr.ª de Saint-Méran também morreram rapidamente. Oh, morre-se depressa na sua casa, Sr. de Villefort!...
- Que diz?! - exclamou o magistrado, com horror e consternação. - Volta outra vez a essa ideia terrível?
- Sempre, senhor, sempre! - respondeu Avrigny solenemente. - Porque ela não me deixa um instante. E para que fique bem convencido de que desta vez não me engano, escute com atenção, Sr. de Villefort.
Villefort, tremia convulsivamente.
- Há um veneno que mata quase sem deixar vestígios. Conheço bem esse veneno: estudei-o em todos os acidentes que ocasiona, em todos os fenómenos que produz. Esse veneno reconheci-o há pouco no pobre Barrois, como já o reconhecera na Sr.ª de Saint-Méran. Há uma maneira de reconhecer a presença desse veneno: restabelece a cor azul do papel-de-tornassol avermelhado por um ácido e tinge de verde o xarope de violetas. Não temos papel-de-tornassol, mas veja, trazem-me ai o xarope de violetas que pedi.
Com efeito, ouviam-se passos no corredor. O médico entreabriu a porta, pegou das mãos da criada de quarto um recipiente no fundo do qual havia duas ou três colheres de xarope e voltou a fechar a porta.
- Veja - disse ao procurador régio, cujo coração batia com tanta força que quase se podia ouvir -, temos nesta taça xarope de violetas e nesta garrafa o resto da limonada de que o Sr. Noirtier e Barrois beberam uma parte. Se a limonada for pura e inofensiva, o xarope conservará a sua cor; se a limonada estiver envenenada, o xarope tornar-se-á verde. Veja!