O Conde de Monte Cristo - Cap. 81: O quarto do padeiro reformado Pág. 781 / 1080

Desdenhas a minha cozinha porque jantas à mesa redonda do Hotel dos Príncipes ou no Café de Paris. Pois eu também poderia ter um criado; e também poderia ter um tílburi; e jantar onde me apetecesse... E privo-me de tudo isso porquê? Para não prejudicar o meu pequeno Benedetto... Vamos, confessa ao menos que poderia, hem?

E um olhar perfeitamente elucidativo de Caderousse concluiu o sentido da frase.

- Bom, admitamos que és meu amigo - concedeu Andrea. - Nesse caso, porque exiges que venha tomar o pequeno-almoço contigo?

- Mas para te ver, meu querido!...

- Que adianta veres-me, se estabelecemos antecipadamente todas as nossas condições?

- Meu caro amigo, existem porventura testamentos sem codicilos? - observou Caderousse. - Mas vieste para tomar primeiro o pequeno-almoço, não é verdade? Então senta-te e comecemos por estas sardinhas e esta manteiga fresca, que coloquei em folhas de videira em tua intenção, minha peste...

Ah, sim, examinas o meu quarto, as minhas quatro cadeiras de palhinha e as minhas imagens a três francos o quadro!...

Demónio, que querias, se isto não é o Hotel dos Príncipes?...

- Pronto, agora estás descontente! Já não és feliz, e no entanto só querias ter o ar de um padeiro reformado...

Caderousse suspirou.

- Então, que tens a dizer? - perguntou Andrea. - Viste o teu sonho realizado.

- Tenho a dizer que é um sonho. Um padeiro reformado, meu pobre Benedetto, é rico, tem rendimentos.

- E tu não tens os teus rendimentos?

- Eu?

- Sim, tu, uma vez que te dou duzentos francos.

Caderousse encolheu os ombros.

- É humilhante - declarou - receber assim dinheiro dado contra vontade, dinheiro efémero, que me pode faltar de um dia para o outro. Bem vês que sou obrigado a fazer economias para o caso de a tua prosperidade não durar ... Sim, meu amigo, a sorte é inconstante, como dizia o capelão ... do regimento. Sei perfeitamente que a tua prosperidade é enorme, celerado... Vais casar com a filha de Danglars.

- Como? De Danglars?!

- Sim, de Danglars! Ou devo dizer o barão Danglars? É como se dissesse o conde Benedetto... Danglars era um amigo, e se não tivesse tão má memória deveria convidar-me para a boda... atendendo a que foi à minha... Sim, sim, sim, à minha! Nesse tempo não era tão orgulhoso; não passava de um escriturariozinho em casa desse bom Sr. Morrel. Jantei mais de uma vez com ele e com o conde de Morcerf... Como vês, tenho excelentes conhecimentos e gostaria de os cultivar um bocadinho. Poderíamos reencontrar-nos nos mesmos salões...

- A tua inveja faz-te ver arcos-íris, Caderousse.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069