O Conde de Monte Cristo - Cap. 81: O quarto do padeiro reformado Pág. 783 / 1080

- Pediria um semestre de adiantamento, a pretexto de me querer tornar elegível e desejar comprar uma quinta. Depois, quando me apanhasse com o meu semestre, punha-me ao fresco.

- Ah, ah! - exclamou Andrea. - Não está mal pensado, não, senhor!

- Meu caro amigo, come da minha cozinha e segue os meus conselhos - sentenciou Caderousse. - Só terás a ganhar, física e moralmente.

- Mas olha lá, porque não segues tu mesmo o conselho que dás? -inquiriu Andrea. - Porque não pedes um semestre adiantado, ou até mesmo um ano, e não te retiras para Bruxelas? Em vez deteres o ar de um padeiro reformado, terias o ar de um falido no exercício das suas funções. Seria um bom golpe.

- Mas como diabo queres tu que me retire com mil e duzentos francos?

- Ah, Caderousse, como te tornaste exigente! Há dois meses morrias de fome...

- Quanto mais se come, mais apetece comer - redarguiu Caderousse, mostrando os dentes como um macaco que ri ou como um tigre que brame. - Por isso - acrescentou, cortando com esses mesmos dentes, tão brancos e aguçados, apesar da idade, um enorme bocado de pão -, tracei um plano.

Os planos de Caderousse assustavam ainda mais Andrea do que as suas ideias. As ideias não passavam do germe, o plano era a realização.

- Vejamos esse plano. Deve ser bonito! - comentou Andrea.

- Porque não? O plano graças ao qual nos pirámos da choça de quem foi? Meu, segundo me consta. e não foi assim tão mau, parece-me, visto estarmos aqui!

- Não digo que não - concordou Andrea. - às vezes tens boas ideias... Mas enfim, vejamos o teu plano.

- Podes - prosseguiu Caderousse -, sem desembolsar um soldo, arranjar-me quinze mil francos?... Não, quinze mil francos é pouco: não quero tornar-me um homem honesto por menos de trinta mil francos!

- Não - respondeu secamente Andrea -, não posso.

- Parece-me que não me compreendeste - redarguiu fria e calmamente Caderousse. - Disse-te sem desembolsares um soldo...

- Com certeza não queres que roube para dar cabo de todo o meu negócio, e do teu com o meu, e voltarmos ambos para a choça?

- Oh, a mim tanto me faz que me apanhem como não! - exclamou Caderousse. - Sou um bocado complicado, como sabes, e às vezes sinto a falta dos camaradas. Não sou como tu, sem coração, que nunca mais querias tornar a vê-los!

Desta vez, Andrea fez mais do que estremecer, empalideceu.

- Vamos, Caderousse, deixemo-nos de tolices!

- Então, meu querido Benedetto, não te assustes... Mas indica-me um meiozinho de ganhar os trinta mil francos sem te meteres em nada. Deixar-me-ás actuar, e pronto!

- Está bem, verei... procurarei... - respondeu Andrea.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069