O Conde de Monte Cristo - Cap. 81: O quarto do padeiro reformado Pág. 784 / 1080

- Mas entretanto aumentarás a minha mesada para quinhentos francos. Estou com a mania de meter uma criada!

- Pois sim, terás os teus quinhentos francos - concordou Andrea. - Mas é muito para mim, meu pobre Caderousse. Tu abusas...

- Ora, ora! - redarguiu Caderousse. - Não te esqueças de que metes a mão em cofres sem fundo...

Dir-se-ia que Andrea esperava que o companheiro proferisse estas palavras, pois nos seus olhos brilhou um rápido clarão, que no entanto se extinguiu imediatamente.

-Lá isso é verdade - admitiu Andrea - e o meu protector é excelente para mim.

- Querido protector! - exclamou Caderousse. - Quanto te dá ele por mês?

- Cinco mil francos - respondeu Andrea.

- Tantas de mil quantas me dás de cem - observou Caderousse. Na verdade, não há como ser bastardo para ter sorte. Cinco mil francos por mês... Que diabo se pode fazer com isso?

- Meu Deus, gastam-se num instante! Por isso, tal como tu, também gostaria muito de ter um capital...

- Um capital sim compreendo. Toda a gente gostaria de ter um capital.

- Eu hei-de ter um.

- E quem to dará? O teu príncipe?

- Sim, o meu príncipe. Infelizmente, terei de esperar

- De esperar o quê? - perguntou Caderousse.

- A sua morte.

- A morte do teu príncipe?

- Sim.

- Explica lá isso.

- Sou contemplado no seu testamento.

- Deveras?

- Palavra de honra!

- Com quanto?

- Com quinhentos mil!

- Só isso? Obrigado, mas é pouco...

- É como te digo.

- Vamos, não é possível!

- Caderousse, és meu amigo?

- Claro! Para a vida e para a morte.

- Pois bem, vou dizer-te um segredo.

- Diz.

- Mas escuta...

- Oh, com a breca, serei mudo como um túmulo!

- Suspeito...

Andrea calou-se e olhou à sua volta.

- Suspeitas... Não tenhas medo, com mil demónios! Estamos sós.

- Suspeito que encontrei o meu pai

- O teu verdadeiro pai?

- Sim.

- Não o pai Cavalcanti?

- Não, porque esse foi-se embora; o verdadeiro, como tu dizes.

- E esse pai é?

- Quem havia de ser, Caderousse? É o conde de Monte-Cristo.

- Ora!

- Sim. Não vês que assim tudo se explica? Não me pode reconhecer publicamente, ao que parece; mas fez-me reconhecer pelo Sr. Cavalcanti, a quem deu cinquenta mil francos.

- Cinquenta mil francos para ser teu pai?! Eu aceitaria desempenhar esse papel por metade do preço, por vinte mil, por quinze mil! Como não te lembraste de mim, ingrato?

- Como querias que lembrasse se tudo foi feito enquanto estávamos na choça?

- É verdade. E dizes que no seu testamento...

- Deixa-me quinhentas mil libras.

- Tens a certeza?

- Ele mostrou-mo. Mas não é tudo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069