O vento de oeste trazia nas suas lufadas húmidas a lúgubre vibração das três pancadas.
Quando o som da última pancada se extinguiu, o conde julgou ouvir um ruído ligeiro do lado do gabinete. Esse primeiro ruído, ou antes esse primeiro rangido, foi seguido de segundo e depois de terceiro. Ao quarto, o conde sabia com que contar. Uma mão firme e experiente ocupava-se de cortar os quatro lados de uma vidraça com um diamante.
O conde sentiu bater mais rapidamente o coração. Por mais habituados que os homens estejam ao perigo e por melhor precavidos que se encontrem contra ele, compreendem sempre, pelo frémito do seu coração e pelo arrepio da sua carne, a enorme diferença que existe entre o sonho e a realidade, entre o projecto e a execução.
No entanto, Monte-Cristo fez apenas um sinal para prevenir Ali. Este, compreendendo que o perigo vinha do lado do gabinete, deu um passo para se aproximar do amo.
Monte-Cristo estava ansioso por saber com quais e com quantos inimigos teria de se haver.
A janela que estavam a arrombar ficava defronte da abertura por onde o conde via o gabinete. Os seus olhos fixaram-se portanto nessa janela. Viu uma sombra desenhar-se, mais densa, na escuridão; depois uma das vidraças tornou-se completamente opaca, como se lhe colassem da parte de fora uma folha de papel; finalmente, a vidraça estalou e separou-se sem cair.
Pela abertura praticada passou um braço, que procurou o fecho. Um segundo mais tarde a janela girou nos gonzos e entrou um homem.
O indivíduo vinha só.
- Ora aí está um patife audacioso... - murmurou o conde.
Neste momento sentiu que Ali lhe tocava suavemente no ombro.
Virou-se. Ali mostrava-lhe a janela do quarto onde estavam e que deitava para a rua.
Monte-Cristo deu três passos para a janela; conhecia a extraordinária delicadeza de sentidos do fiel servidor. Com efeito, viu outro homem afastar-se de uma porta, subir para um marco e parecer procurar ver o que se passava em casa do conde.
- Bom, são dois - disse. - Um actua e o outro vigia.
Fez sinal a Ali para não perder de vista o homem da rua e encarregou-se do do gabinete.
O cortador de vidros entrara e orientava-se, com os braços estendidos na sua frente.
Por fim, pareceu ter descoberto o que lhe interessava. Havia duas portas no gabinete; correu os ferrolhos de ambas.
Quando se aproximou da porta do quarto de dormir, Monte-Cristo julgou que ele fosse entrar e preparou uma das pistolas; mas ouviu simplesmente o ruído do ferrolho a deslizar nos seus anéis de cobre. Tratava-se de uma mera precaução.