O Conde de Monte Cristo - Cap. 82: O assalto Pág. 798 / 1080

- Não faça isso, Sr. Abade!

- Porquê?

- Porque seria o nosso pão que nos faria perder.

- E julga que para conservar o pão a miseráveis como vocês me tornarei um encobridor das suas velhacarias, um cúmplice dos seus crimes?

- Sr. Abade! - exclamou Caderousse, aproximando-se mais.

- Direi tudo.

- A quem?

- Ao Sr. Danglars.

- Irra! - gritou Caderousse, tirando uma navalha aberta do colete e atingindo o conde no meio do peito. - Não dirás nada, abade!

Mas, com grande espanto de Caderousse, a navalha, em vez de penetrar no peito do conde, ressaltou embotada.

Ao mesmo tempo, o conde agarrou com a mão esquerda o pulso do assassino e torceu-o com tal força que a navalha caiu-lhe dos dedos hirtos e Caderousse soltou um grito de dor.

Mas, sem que o grito o detivesse, o conde continuou a torcer o pulso do bandido até ele, com o braço deslocado, cair primeiro de joelhos e depois de cara contra o chão.

Então, o conde pôs-lhe o pé na cabeça e disse:

- Não sei que me impede de te rachar o crânio, celerado!

- Piedade! Piedade! - gritou Caderousse.

O conde retirou o pé

- Levanta-te! - ordenou-lhe.

Caderousse levantou-se.

- Com a breca, sempre tem uma mão mais forte, Sr. Abade!... - exclamou Caderousse, esfregando o braço pisado pela tenaz de carne que lho apertara. - Sim, senhor, que mão!...

- Silêncio! Deus deu-me força suficiente para domar uma fera como tu. É em nome de Deus que procedo. Lembra-te disto, miserável: se te poupo neste momento é ainda para servir os desígnios de Deus.

- Hui! - gemeu Caderousse, muito magoado.

- Pega nessa pena e nesse papel e escreve o que te vou ditar.

- Não sei escrever, Sr. Abade...

- Mentes. Pega nessa pena e escreve!

Subjugado por aquele poder superior, Caderousse sentou-se e escreveu:

«Senhor, o homem que recebe em sua casa e a quem destina a sua filha é um antigo forçado, evadido comigo das galés de Toulon. Ele tinha o n.º 59 e eu o n.º 58. Chamava-se Benedetto, mas ele próprio ignora o seu verdadeiro nome e nunca conheceu os pais.»

- Assina! - continuou o conde.

- Mas o senhor quer-me perder?

- Se te quisesse perder, imbecil, arrastar-te-ia até à primeira esquadra de polícia. Aliás, à hora em que o teu bilhete chegar ao seu destino é provável que já não tenhas nada a temer. Assina, pois.

Caderousse assinou.

- O endereço: «Ao Sr. Barão Danglars, banqueiro, Rua da Chaussée-d'Antin.»

Caderousse escreveu o endereço.

O abade pegou no bilhete.

- Agora que está tudo em ordem - disse -, vai-te embora.

- Por onde?

- Por onde vieste.

- Quer que eu saia por essa janela?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069