- Entraste bem por ela...
- Desconfio que trama qualquer coisa contra mim, Sr Abade...
- Imbecil! Que queres que trame?
- Porque não me abre a porta?
- Que necessidade há de acordar o porteiro?
- Sr. Abade, diga-me que não quer a minha morte.
- Quero o que Deus quiser.
- Mas jure-me que não me atacará enquanto eu descer.
- Sempre me saíste um estúpido e um cobarde!
- Que quer fazer de mim?
- Isso pergunto-te eu. Tentei fazer de ti um homem feliz e só fiz um criminoso!
- Sr. Abade, tente uma última experiência - pediu Caderousse.
- Seja - concordou o conde. - Escuta, sabes que sou um homem de palavra?
- Sei - respondeu Caderousse.
- Se regressares a casa são e salvo...
- Não sendo o senhor, que mais tenho a temer?
- Se regressares a casa são e salvo, deixa Paris, deixa a França, e onde quer que estejas, desde que te comportes honestamente, far-te-ei chegar uma pequena pensão. Porque se regressares a casa são e salvo, bom...
- Bom?... - perguntou Caderousse, estremecendo.
- Bom, acreditarei que Deus te perdoou e perdoar-te-ei também.
- Tão certo como eu ser cristão, o senhor faz-me morrer de medo! - balbuciou Caderousse, recuando.
- Vamos, sai! - ordenou o conde, apontando com o dedo a janela a Caderousse.
Apesar de pouco tranquilizado pela promessa, Caderousse passou a perna por cima do parapeito da janela e pôs o pé na escada de mão.
Aí parou a tremer.
- Agora desce - disse o abade, cruzando os braços.
Caderousse convenceu-se de que não havia nada a temer daquele lado e desceu.
Então o conde aproximou-se com a vela, de forma que se pudesse distinguir dos Campos Elísios aquele homem que descia de uma janela iluminado por outro homem.
- Que está a fazer, Sr. Abade? - perguntou Caderousse. – Se passasse uma patrulha...
Apagou a vela. Depois, continuou a descer; mas só quando sentiu o solo do jardim debaixo dos pés ficou suficientemente tranquilizado.
Monte-Cristo reentrou no seu quarto de dormir, e, deitando uma rápida olhadela do jardim à rua, viu primeiro Caderousse, que, depois de descer, dava uma volta no jardim e ia colocar a escada de mão na extremidade do muro, a fim de sair por um sítio diferente daquele por onde entrara.
Depois, passando do jardim à rua, viu o homem que parecia esperar correr paralelamente pela rua e colocar-se mesmo atrás da esquina junto da qual Caderousse ia descer.
Caderousse subiu lentamente a escada e, chegado aos últimos degraus, passou a cabeça por cima do espigão, a fim de se assegurar de que a rua estava deserta.
Não se via ninguém nem se ouvia nenhum ruído.