- Srs. Pares - respondeu -, não é com o tempo que se repele um ataque como o que dirigem neste momento contra mim inimigos desconhecidos e que permanecem na sombra da sua obscuridade, sem dúvida; é imediatamente, é por meio de um contra-ataque súbito que devo responder ao relâmpago que por instantes me cegou, já que me não é dado, em vez de semelhante justificação, derramar o meu sangue para provar aos meus colegas que sou digno de me sentar a seu lado!
Estas palavras causaram uma impressão favorável ao acusado.
- Peço portanto que o inquérito se efectue o mais depressa possível, e fornecerei à Câmara todas as provas necessárias à eficácia dessa diligencia.
- Que dia fixa? - perguntou o presidente.
- Coloco-me a partir de hoje à disposição da Câmara - respondeu o conde.
O presidente agitou a campainha.
- A Câmara concorda que o inquérito se realize hoje mesmo? - perguntou.
- Sim! - foi a resposta unânime da assembleia.
Nomeou-se uma comissão de doze membros para examinar as provas a fornecer por Morcerf. A primeira sessão da comissão foi marcada para as oito da noite no edifício da Câmara. Se fossem necessárias diversas sessões, realizar-se-iam à mesma hora e no mesmo local.
Tomada esta decisão, Morcerf pediu licença para se retirar.
Tinha de reunir as provas acumuladas havia muito tempo para enfrentar aquela tempestade, prevista pelo seu cauteloso e indomável carácter.
Beauchamp contou ao jovem tudo o que acabamos de dizer pela nossa parte. O seu relato apenas teve sobre o nosso a vantagem da animação das coisas vivas sobre a frieza das coisas mortas.
Albert escutou-o, tremendo, ora de esperança, ora de cólera, e por vezes de vergonha. Porque, pela confidência de Beauchamp, sabia que o pai era culpado e perguntava a si próprio como, uma vez que era culpado, conseguiria provar a sua inocência.
Chegado a este ponto, Beauchamp calou-se.
- E depois? - perguntou Albert.
- E depois? - repetiu Beauchamp.
- Sim.
- Meu amigo, essa palavra coloca-me perante um horrível dilema. Quer, de facto, saber o que se passou depois?
- É absolutamente necessário que o saiba, meu amigo, e prefiro sabê-lo pela sua boca do que pela de qualquer outro.
- Nesse caso - declarou Beauchamp -, apele para a sua coragem, Albert; nunca terá tanta necessidade dela.
Albert passou a mão pela testa para se assegurar da sua própria energia, como um homem que, preparando-se para defender a vida, experimenta a couraça e verga a lâmina da espada.
Sentiu-se forte, porque tomava a febre por energia.
- Continue! - pediu.