O Conde de Monte Cristo - Cap. 86: O julgamento Pág. 825 / 1080

- Srs. Pares - respondeu -, não é com o tempo que se repele um ataque como o que dirigem neste momento contra mim inimigos desconhecidos e que permanecem na sombra da sua obscuridade, sem dúvida; é imediatamente, é por meio de um contra-ataque súbito que devo responder ao relâmpago que por instantes me cegou, já que me não é dado, em vez de semelhante justificação, derramar o meu sangue para provar aos meus colegas que sou digno de me sentar a seu lado!

Estas palavras causaram uma impressão favorável ao acusado.

- Peço portanto que o inquérito se efectue o mais depressa possível, e fornecerei à Câmara todas as provas necessárias à eficácia dessa diligencia.

- Que dia fixa? - perguntou o presidente.

- Coloco-me a partir de hoje à disposição da Câmara - respondeu o conde.

O presidente agitou a campainha.

- A Câmara concorda que o inquérito se realize hoje mesmo? - perguntou.

- Sim! - foi a resposta unânime da assembleia.

Nomeou-se uma comissão de doze membros para examinar as provas a fornecer por Morcerf. A primeira sessão da comissão foi marcada para as oito da noite no edifício da Câmara. Se fossem necessárias diversas sessões, realizar-se-iam à mesma hora e no mesmo local.

Tomada esta decisão, Morcerf pediu licença para se retirar.

Tinha de reunir as provas acumuladas havia muito tempo para enfrentar aquela tempestade, prevista pelo seu cauteloso e indomável carácter.

Beauchamp contou ao jovem tudo o que acabamos de dizer pela nossa parte. O seu relato apenas teve sobre o nosso a vantagem da animação das coisas vivas sobre a frieza das coisas mortas.

Albert escutou-o, tremendo, ora de esperança, ora de cólera, e por vezes de vergonha. Porque, pela confidência de Beauchamp, sabia que o pai era culpado e perguntava a si próprio como, uma vez que era culpado, conseguiria provar a sua inocência.

Chegado a este ponto, Beauchamp calou-se.

- E depois? - perguntou Albert.

- E depois? - repetiu Beauchamp.

- Sim.

- Meu amigo, essa palavra coloca-me perante um horrível dilema. Quer, de facto, saber o que se passou depois?

- É absolutamente necessário que o saiba, meu amigo, e prefiro sabê-lo pela sua boca do que pela de qualquer outro.

- Nesse caso - declarou Beauchamp -, apele para a sua coragem, Albert; nunca terá tanta necessidade dela.

Albert passou a mão pela testa para se assegurar da sua própria energia, como um homem que, preparando-se para defender a vida, experimenta a couraça e verga a lâmina da espada.

Sentiu-se forte, porque tomava a febre por energia.

- Continue! - pediu.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069