»O Sr. de Morcerf empalideceu e crispou as mãos nos papéis que segurava e que lhe rangeram nos dedos.
»A resposta da comissão foi pela leitura. Quanto ao conde, estava pensativo e não tinha qualquer opinião a emitir.
»O presidente leu portanto a seguinte carta: "Sr. Presidente: Posso fornecer à comissão de inquérito encarregada de examinar a conduta no Epiro e na Macedónia do Sr. Tenente-general Conde de Morcerf as informações mais positivas."
»O presidente fez uma curta pausa.
»O conde de Morcerf empalideceu. O presidente interrogou os ouvintes com a vista.
»- Continue! - gritaram de todos os lados.
»O presidente prosseguiu: "Encontrava-me presente aquando da morte de Ali-Paxá; assisti aos seus últimos momentos; sei o que foi feito de Vasiliki e Haydée; estou ao dispor da comissão e reclamo mesmo a honra de me fazer ouvir.
Encontro-me no vestíbulo da Câmara no momento em que lhe envio esta carta."
«- E quem é essa testemunha, ou antes esse inimigo? - perguntou o conde numa voz em que era fácil notar profunda alteração.
»- Vamos sabê-lo, senhor - respondeu o presidente. - A comissão concorda em ouvir a testemunha?
»- Sim, sim! - responderam ao mesmo tempo todas as vozes.
»Chamou-se um contínuo.
»- Contínuo - perguntou o presidente -, está alguém à espera no vestíbulo?
»- Está, sim, Sr. Presidente.
«- Quem?
»- Uma mulher acompanhada de um criado.
»Todos se entreolharam.
»- Mande entrar essa mulher - ordenou o presidente.
»Passados cinco minutos, o contínuo reapareceu. Todos os olhos estavam fixos na porta, e eu próprio - disse Beauchamp compartilhava a expectativa e a ansiedade gerais.
»Atrás do contínuo vinha uma mulher envolta num grande véu, que a cobria por completo. No entanto, adivinhava-se, pelas formas que o véu deixava transparecer e pelo perfume que ela exalava, a presença de uma mulher nova e elegante, mas mais nada.
»O presidente pediu à desconhecida que tirasse o véu e então todos viram que a mulher estava vestida à grega. Além disso, era de extraordinária beleza.»
- Ah, era ela! - exclamou Morcerf
- Ela, quem?
- Sim, Haydée.
- Quem lhe disse?
- Adivinho-o. Mas continue, Beauchamp, peço-lhe. Como vê, estou calmo e forte. E no entanto devemos estar a aproximar-nos do fim.