O Conde de Monte Cristo - Cap. 86: O julgamento Pág. 827 / 1080

Albert estremeceu ao ouvir estas palavras, porque à medida que Beauchamp falava, toda a narrativa de Haydée acudia ao espírito do jovem, e recordava-se do que a bela grega dissera acerca daquela mensagem e daquele anel e da forma como fora vendida e submetida à escravatura.

- E qual foi o efeito do discurso do conde? - perguntou Albert com ansiedade.

- Confesso que me comoveu e que, ao mesmo tempo que a mim, comoveu toda a comissão - respondeu Beauchamp.

»Entretanto, o presidente deitou negligentemente os olhos à carta que lhe tinham entregado. Mas às primeiras linhas a sua atenção despertou. Leu-a, releu-a e, cravando os olhos no Sr. de Morcerf, perguntou:

».. Sr. Conde, acaba de nos dizer que o vizir de Janina lhe confiara a mulher e a filha, não é verdade?

»- É, sim, senhor - respondeu Morcerf. - Mas nisso como em tudo o mais, a pouca sorte perseguia-me. No meu regresso, Vasiliki e sua filha Haydée tinham desaparecido.

»- Conhecia-as!

»- A minha intimidade com o paxá e a suprema confiança que ele depositava na minha fidelidade tinham-me permitido vê-las mais de vinte vezes.

»- Tem alguma ideia do que lhes aconteceu?

»- Tenho, senhor. Ouvi dizer que tinham sucumbido ao seu desgosto e talvez à sua miséria. Eu não era rico, a minha vida corria grandes perigos e não pude procurá-las, com grande pesar meu.

»O presidente franziu imperceptivelmente o sobrolho.

»- Senhores - disse -, ouviram e acompanharam o Sr. Conde de Morcerf e as suas explicações. Sr. Conde, pode fornecer-nos algum testemunho em apoio do que acaba de nos relatar?

»- Infelizmente, não, senhor - respondeu o conde. - Todos os que rodeavam o vizir e que me conheceram na sua corte morreram ou desapareceram. Apenas, pelo menos segundo creio, apenas compatriotas meus sobreviveram àquela horrível guerra. Só tenho cartas de Ali-Tebelin, e essas já as exibi aqui. Quanto ao anel, penhor da sua vontade, ei-lo. Finalmente, tenho aprova mais convincente que posso fornecer, isto é, depois de um ataque anónimo, a ausência de qualquer testemunha contra a minha palavra de homem honesto e a pureza de toda a minha vida militar.

»Um murmúrio de aprovação percorreu a assembleia. Naquele momento, Albert, se não tivesse acontecido nenhum incidente, a causa do seu pai estaria ganha.

»Faltava apenas a votação quando o presidente tomou a palavra.

»- Senhores - disse -, e o senhor, conde de Morcerf, presumo que não se importarão de ouvir uma testemunha importantíssima, ao que ela afirma, e que acaba de se apresentar espontaneamente.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069