O Conde de Monte Cristo - Cap. 86: O julgamento Pág. 832 / 1080

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»- Reconhece portanto concretamente o Sr. de Morcerf como sendo o próprio oficial Fernand Mondego?

»- Se reconheço! - gritou Haydée. - Ó minha mãe, tu disseste-me: "Eras livre, tinhas um pai que amavas, estavas destinada a ser quase uma rainha! Olha bem aquele homem, foi ele que te fez escrava, foi ele que levou na ponta de um pique a cabeça do teu pai, foi ele que nos vendeu, foi ele que nos entregou. Se esqueceres o seu rosto, reconhecê-lo-ás por aquela mão, na qual caíram uma a uma as moedas de ouro do negociante El-Kobbir!" Sim, reconheço-o! Ele próprio que diga agora se me não reconhece.

»Cada palavra caía como um cutelo sobre Morcerf e cortava uma parcela da sua energia. Quando ouviu as últimas, escondeu vivamente no peito, mal-grado seu, a mão mutilada por um ferimento e voltou a cair na sua poltrona, mergulhado num sombrio desespero.

»Esta cena fizera turbilhonar os espíritos da assembleia, tal como vemos correr as folhas soltas do tronco das árvores arrastadas pelo vento poderoso do norte.

»- Sr. Conde de Morcerf - disse o presidente -, não se deixe abater, responda. A justiça do tribunal é suprema e igual para todos, como a de Deus. Ela não o deixará esmagar pelos seus inimigos sem lhe dar os meios de os combater.

Quer que se proceda a novos inquéritos? Quer que mande dois membros da Câmara a Janina? Fale!

»Morcerf não respondeu.

»Então, todos os membros da comissão se entreolharam com uma espécie de terror. Conheciam o temperamento enérgico e violento do conde; só uma terrível prostração poderia anular a defesa daquele homem; enfim, era mister pensar que àquele silêncio, que se assemelhava ao sono, sucederia um despertar que se assemelharia ao raio.

»- Então, que decide? - insistiu o presidente.

»- Nada! - respondeu o conde em voz abafada, levantando-se.

»- Portanto, o que a filha de Ali-Tebelin declarou é realmente a verdade? Ela é realmente a testemunha terrível a quem, como sempre acontece, o culpado não ousa responder NÃO? O senhor praticou realmente todos os actos de que o acusam? - perguntou o presidente.

»O conde lançou à sua volta um olhar cuja expressão desesperada comoveria tigres, mas que não podia desarmar juízes. Depois, levantou os olhos para a abóbada e desviou-os imediatamente, como se receasse que ela se abrisse e fizesse resplandecer esse segundo tribunal chamado Céu, esse outro juiz chamado Deus.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069