O Conde de Monte Cristo - Cap. 86: O julgamento Pág. 831 / 1080

Ora, quando pus os pés em França, quando soube que o traidor morava em Paris, os meus olhos e os meus ouvidos ficaram constantemente abertos. Vivo retirada em casa do meu nobre protector, mas vivo assim porque gosto da sombra e do silêncio, que me permitem entregar-me aos meus pensamentos e ao meu recolhimento. Mas o Sr. Conde de Monte-Cristo rodeia-me de cuidados paternais e nada do que constitui a vida social me é estranho; apenas lhe aceito o ruído distante.

Assim, leio todos os jornais, tal como me enviam todos os álbuns e recebo todas as melodias. E foi acompanhando, sem nela interferir, a vida dos outros, que soube o que se passou esta manhã na Câmara dos Pares e o que se deveria passar esta tarde... Então, escrevi.

«- Portanto - perguntou o presidente -, o Sr. Conde de Monte-Cristo não tem nada a ver com a sua diligência?

»- Ignora-a completamente, senhor, e o meu único receio é que a desaprove quando o souber. No entanto, este foi um belo dia para mim - continuou a jovem, erguendo ao céu um olhar ardente como uma chama -, por ser aquele em que tive finalmente ensejo de vingar o meu pai.

»Durante todo este tempo o conde não pronunciara uma só palavra. Os seus colegas olhavam-no e sem dúvida lamentavam aquele êxito destruído pelo sopro perfumado de uma mulher. A sua desventura inscrevia-se-lhe pouco a pouco em caracteres sinistros no rosto.

»- Sr. de Morcerf - perguntou o presidente -, reconhece esta senhora como filha de Ali-Tebelin, paxá de Janina?

»- Não - respondeu Morcerf, fazendo um esforço para se levantar. - Trata-se de uma trama urdida pelos meus inimigos.

»Haydée, que tinha os olhos fixos na porta, como se esperasse alguém, virou-se bruscamente e, encontrando o conde de pé, soltou um grito terrível.

»- Não me reconheces - disse. - Pois eu reconheço-te, felizmente! És Fernand Mondego, o oficial francês que entregou as tropas do meu nobre pai. Foste tu que entregaste os castelos de Janina! Foste tu que, enviado por ele a Constantinopla para negociares directamente com o imperador a vida ou a morte do teu benfeitor, trouxeste um falso firmão que lhe concedia perdão completo! Foste tu que, com esse firmão, obtiveste o anel do paxá que te devia proporcionar a obediência de Selim, o guarda do fogo! Foste tu que apunhalaste Selim! Foste tu que nos vendeste, a minha mãe e a mim, ao negociante El-Kobbir! Assassino! Assassino! Assassino! Ainda tens na testa o sangue do teu senhor! Vejam todos!

»Estas palavras foram proferidas com tal acento de verdade que todos os olhos se viraram para a testa do conde, e ele próprio levou lá a mão, como se sentisse, ainda tépido, o sangue de Ali.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069