Agora repito-lhe, Beauchamp, tenho de reentrar na vida humana e material, e se é ainda meu amigo como diz, ajude-me a encontrar a mão que desferiu o golpe.
- Seja! - respondeu Beauchamp. - Se quer absolutamente que desça à terra, descerei; se quer ir em busca de um inimigo, irei consigo. E encontrá-lo-ei, porque a minha honra tem quase tanto interesse como a sua em que o encontremos.
- Nesse caso, Beauchamp, comecemos agora mesmo, sem demora, as nossas investigações. Cada minuto de espera é uma eternidade para mim. O denunciante ainda não foi punido e pode portanto esperar não o ser. Mas, pela minha honra, se o espera, engana-se!
- Escute o que lhe vou dizer, Morcerf:
- Ah, Beauchamp, vejo que sabe alguma coisa!... Isso é o mesmo que restituir-me a vida.
- Não garanto que seja verdade, Albert, mas é pelo menos uma luz na noite. Seguindo essa luz, talvez ela nos conduza ao objectivo.
- Diga! Bem vê que ardo de impaciência.
- Pois bem, vou-lhe contar o que lhe não quis dizer no regresso de Janina.
- Fale.
- Eis o que se passou, Albert: muito naturalmente, procurei o primeiro banqueiro da cidade para obter informações. Mal me referi ao caso, ainda antes do nome do seu pai ser pronunciado, disse-me ele:
»- Ah, muito bem, adivinho o que o traz por cá!...
»- Como assim? Porquê?
»- Porque apenas há quinze dias fui interrogado sobre o mesmo assunto.
»- Por quem?
»- Por um banqueiro de Paris, meu correspondente.
»- Chamado?
»- Sr. Danglars.»
- Ele! - exclamou Albert. - Com efeito, é ele que há muito tempo persegue o meu pobre pai com o seu ódio invejoso; ele, o homem pretensamente popular, que não pode perdoar ao conde de Morcerf ser par de França. E, veja, aquele rompimento de casamento sem motivo declarado... Sim, é isso!
- Informe-se, Albert, mas não perca a cabeça antecipadamente. Informe-se, repito-lhe, e se for verdade...
- Oh, sim, se for verdade... pagar-me-á tudo o que tenho sofrido! - exclamou o jovem.
- Cautela, Morcerf, lembre-se de que é um homem já velho.
- Olharei à sua idade tanto como ele olhou à honra da minha família. Se queria mal ao meu pai, porque não o atacou cara a cara? Oh, não, ele tem medo de se encontrar diante de um homem!
- Albert, não o condeno, estou apenas a aconselhá-lo: ande com prudência.
- Oh, não tenha medo! De resto, acompanhar-me-á, Beauchamp. As coisas solenes devem ser tratadas diante de testemunhas. Antes do fim deste dia, se o Sr. Danglars for culpado, o Sr. Danglars deixará de viver ou eu estarei morto. Por Deus, Beauchamp, quero fazer um lindo funeral à minha honra!