- Eu não acuso ninguém, senhor - redarguiu Danglars conto como as coisas se passaram e repetirei diante do Sr. Conde de Monte-Cristo o que acabo de dizer diante dos senhores.
- E o conde sabe que resposta recebeu?
- Mostrei-lha.
- Sabia que o nome de baptismo do meu pai era Fernand e que o seu nome de família era Mondego?
- Sabia, eu tinha-lho dito havia muito tempo. Quanto ao mais, não fiz nesse caso senão o que qualquer outro faria, e até talvez muito menos. Quando, no dia seguinte a receber a resposta, impelido pelo Sr. Conde de Monte-Cristo, o seu pai me veio pedir a minha filha oficialmente, recusei, como se faz quando se quer acabar com as coisas de vez, recusei redondamente, é verdade, mas sem explicações, sem escândalo. Com efeito, para que faria eu um escândalo? Em que medida a honra ou a desonra do Sr. de Morcerf me interessava? Não seria por isso que a taxa de juro subiria ou desceria...
Albert sentiu o rubor subir-lhe à testa. Não havia dúvida: Danglars defendia-se com baixeza, mas também com a segurança de um homem que diz, se não toda a verdade, pelo menos parte da verdade, não por consciência, é certo, mas sim por terror.
Aliás, que procurava Morcerf? Não era a mais ou menos culpabilidade de Danglars ou de Monte-Cristo, era um homem que respondesse por uma ofensa ligeira ou grave, era um homem que se batesse, e era evidente que Danglars não se bateria.
E depois, todas as coisas esquecidas ou despercebidas se tornavam agora visíveis a seus olhos ou presentes na sua memória. Monte-Cristo sabia tudo pois fora ele que comprara a filha de Ali-Paxá. Ora, sabendo tudo, aconselhara Danglars a escrever para Janina. Conhecida a resposta, acedera ao desejo manifestado por Albert para ser apresentado a Haydée. Uma vez diante dela, deixara a conversa derivar para a morte de Ali, sem se opor à narrativa de Haydée, mas tendo sem dúvida dado à jovem, nalgumas palavras romaicas que pronunciara, instruções que não tinham permitido a Morcerf reconhecer o pai. De resto, não pedira ele a Morcerf que não proferisse o nome do pai diante de Haydée? Por fim, levara Albert para a Normandia no momento em que sabia que o grande escândalo ia rebentar. Não havia dúvida a tal respeito: tudo aquilo fora calculado e sem dúvida nenhuma Monte-Cristo era conivente dos inimigos do conde de Morcerf.
Albert levou Beauchamp para um canto e comunicou-lhe todas estas deduções.
- Tem razão - concordou o jornalista. - O Sr. Danglars só tem a ver com o sucedido no tocante à parte brutal e material; é a Monte-Cristo que deve pedir uma explicação.
Albert virou-se.