O Conde de Monte Cristo - Cap. 88: O insulto Pág. 845 / 1080

Aturdido, espantado, com os olhos injectados de sangue, Albert deu dois passos atrás. Morrel aproveitou para fechar a porta.

Monte-Cristo voltou a pegar no binóculo e pôs-se a observar a sala como se nada de extraordinário se tivesse passado.

Aquele homem tinha um coração de bronze e um rosto de mármore. Morrel inclinou-se-lhe ao ouvido.

- Que lhe fez? - inquiriu.

- Eu? Nada, pelo menos pessoalmente - respondeu Monte-Cristo.

- Contudo, esta cena estranha deve ter uma causa...

- A aventura do conde de Morcerf exasperou o pobre rapaz.

- E o senhor teve alguma coisa a ver com isso?

- Foi por intermédio de Haydée que a Câmara teve conhecimento da traição do pai.

- De facto, disseram-me, mas não quis acreditar, que a escrava grega que tenho visto consigo neste mesmo camarote era filha de Ali-Paxá.

- No entanto, é verdade.

- Oh, meu Deus, compreendo tudo agora! - exclamou Morrel. - Esta cena foi premeditada.

- Como?

- Sim. Albert escreveu-me a pedir-me que estivesse esta noite na ópera. Era para me tornar testemunha do insulto que lhe queria fazer.

- Provavelmente - admitiu Monte-Cristo, com a sua imperturbável tranquilidade.

- Mas que fará dele?

- De quem?

- De Albert!

- De Albert? - repetiu Monte-Cristo no mesmo tom. - Que farei de Albert, Maximilien? Tão certo como o senhor estar aqui e eu apertar-lhe a mão, matá-lo-ei amanhã antes das dez horas da manhã. Aqui tem o que farei dele.

Morrel pegou por sua vez na mão de Monte-Cristo com as suas e estremeceu ao sentir aquela mão fria e calma.

- Ah, conde, o pai ama-o tanto!... - murmurou.

- Não me diga isso! - gritou Monte-Cristo, no primeiro movimento de cólera que deixava transparecer. - Fá-lo-ei sofrer!

Morrel, estupefacto, deixou cair a mão de Monte-Cristo.

- Conde! Conde!

- Meu caro Maximilien - interrompeu-o o conde -, escute de que forma adorável Duprez canta esta frase: «Ó Matilde, ídolo da minha alma!» Fui o primeiro a descobrir Duprez em Nápoles e o primeiro a aplaudi-lo. Bravo! Bravo!

Morrel compreendeu que não havia mais nada a dizer e calou-se. O pano, que subira no fim da cena de Albert, desceu quase imediatamente. Bateram à porta.

- Entre - disse Monte-Cristo, sem que a sua voz denotasse a menor emoção.

Apareceu Beauchamp.

- Senhor - disse a Monte-Cristo -, há pouco acompanhava, como deve ter visto, o Sr. de Morcerf.

- O que significa - redarguiu Monte-Cristo, rindo - que vinham provavelmente de jantar juntos. Ainda bem, Sr. Beauchamp, que está mais sóbrio do que ele.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069