O Conde de Monte Cristo - Cap. 89: A Noite Pág. 849 / 1080

- Fernand, quererá dizer, minha senhora – corrigiu Monte-Cristo com uma amarga ironia. - Uma vez que estamos em maré de nos recordarmos dos nomes, recordemo-los todos.

Monte-Cristo pronunciou o nome de Fernand com tal expressão de ódio que Mercédès sentiu um arrepio de terror percorrer-lhe o corpo.

- Bem vê, Edmond, que me não enganei e que tenho razão em pedir-lhe: poupe o meu filho!

- E quem lhe disse, minha senhora, que quero mal ao seu filho?

- Ninguém, meu Deus! Mas uma mãe é dotada de um sexto sentido e adivinhei tudo. Segui-o esta noite à ópera e, oculta numa frisa, vi tudo o que se passou.

- Então, se viu tudo, minha senhora, viu que o filho de Fernand me insultou publicamente - disse Monte-Cristo com uma calma terrível.

- Oh, por piedade!

- Viu - continuou o conde - que me atiraria com a sua luva à cara se um dos meus amigos, o Sr. Morrel, lhe não tivesse agarrado o braço.

- Ouça-me. O meu filho também o descobriu e atribui-lhe as desventuras que atingem o pai.

- Minha senhora, está confundida - redarguiu Monte-Cristo. - Não se trata de desventuras, mas sim de um castigo. Não sou eu que firo o Sr. de Morcerf, é a Providência que o pune.

- E por que motivo toma o senhor o lugar da Providência? - inquiriu Mercédès. - Porque se lembra, quando Ela esquece? Que lhe interessa, Edmond, Janina e o seu vizir? Que mal lhe fez Fernand Mondego atraiçoando Ali-Tebelin?

- Minha senhora - respondeu Monte-Cristo -, tudo isso é, de facto, assunto entre o oficial francês e a filha de Vasiliki. Isso não me diz respeito, tem razão, e se jurei vingar-me não foi nem do oficial francês nem do conde de Morcerf: foi do pescador Fernand, marido da catalã Mercédès.

- Ah, senhor, que terrível vingança por uma falta que a fatalidade me fez cometer! - gritou a condessa. - Porque a culpada sou eu, Edmond, e se tem de se vingar de alguém, é de mim, que não tive coragem para suportar a sua ausência e o meu isolamento.

- Mas a que se devia a minha ausência? A que se devia o seu isolamento? - perguntou Monte-Cristo.

- A terem-no prendido, Edmond, a terem-no encarcerado...

- E porque fui preso, porque fui encarcerado?

- Ignoro-o - respondeu Mercédès.

- Sim, ignora-o, minha senhora, tenho pelo menos essa esperança... Pois bem, vou elucidá-la! Fui preso e encarcerado porque debaixo do caramanchão da Réserve, na véspera do dia em que devia casar consigo, um homem chamado Danglars escreveu esta carta, que o pescador Fernand se encarregou de pôr pessoalmente no correio.

E Monte-Cristo dirigiu-se para a sua secretária, abriu uma gaveta e tirou um papel que perdera a cor primitiva e cuja tinta se tornara cor de ferrugem, papel que pôs diante dos olhos de Mercédès.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069