- Fernand, quererá dizer, minha senhora – corrigiu Monte-Cristo com uma amarga ironia. - Uma vez que estamos em maré de nos recordarmos dos nomes, recordemo-los todos.
Monte-Cristo pronunciou o nome de Fernand com tal expressão de ódio que Mercédès sentiu um arrepio de terror percorrer-lhe o corpo.
- Bem vê, Edmond, que me não enganei e que tenho razão em pedir-lhe: poupe o meu filho!
- E quem lhe disse, minha senhora, que quero mal ao seu filho?
- Ninguém, meu Deus! Mas uma mãe é dotada de um sexto sentido e adivinhei tudo. Segui-o esta noite à ópera e, oculta numa frisa, vi tudo o que se passou.
- Então, se viu tudo, minha senhora, viu que o filho de Fernand me insultou publicamente - disse Monte-Cristo com uma calma terrível.
- Oh, por piedade!
- Viu - continuou o conde - que me atiraria com a sua luva à cara se um dos meus amigos, o Sr. Morrel, lhe não tivesse agarrado o braço.
- Ouça-me. O meu filho também o descobriu e atribui-lhe as desventuras que atingem o pai.
- Minha senhora, está confundida - redarguiu Monte-Cristo. - Não se trata de desventuras, mas sim de um castigo. Não sou eu que firo o Sr. de Morcerf, é a Providência que o pune.
- E por que motivo toma o senhor o lugar da Providência? - inquiriu Mercédès. - Porque se lembra, quando Ela esquece? Que lhe interessa, Edmond, Janina e o seu vizir? Que mal lhe fez Fernand Mondego atraiçoando Ali-Tebelin?
- Minha senhora - respondeu Monte-Cristo -, tudo isso é, de facto, assunto entre o oficial francês e a filha de Vasiliki. Isso não me diz respeito, tem razão, e se jurei vingar-me não foi nem do oficial francês nem do conde de Morcerf: foi do pescador Fernand, marido da catalã Mercédès.
- Ah, senhor, que terrível vingança por uma falta que a fatalidade me fez cometer! - gritou a condessa. - Porque a culpada sou eu, Edmond, e se tem de se vingar de alguém, é de mim, que não tive coragem para suportar a sua ausência e o meu isolamento.
- Mas a que se devia a minha ausência? A que se devia o seu isolamento? - perguntou Monte-Cristo.
- A terem-no prendido, Edmond, a terem-no encarcerado...
- E porque fui preso, porque fui encarcerado?
- Ignoro-o - respondeu Mercédès.
- Sim, ignora-o, minha senhora, tenho pelo menos essa esperança... Pois bem, vou elucidá-la! Fui preso e encarcerado porque debaixo do caramanchão da Réserve, na véspera do dia em que devia casar consigo, um homem chamado Danglars escreveu esta carta, que o pescador Fernand se encarregou de pôr pessoalmente no correio.
E Monte-Cristo dirigiu-se para a sua secretária, abriu uma gaveta e tirou um papel que perdera a cor primitiva e cuja tinta se tornara cor de ferrugem, papel que pôs diante dos olhos de Mercédès.