- Estou à espera, senhor - atalhou o conde.
- Senhor - disse Albert, primeiro numa voz trémula, mas depois cada vez mais firme. - Senhor, censurava-o por ter divulgado a conduta do Sr. de Morcerf no Epiro; porque por mais culpado que fosse o Sr. Conde de Morcerf; não me parecia que o senhor tivesse o direito de o punir. Mas hoje, senhor, sei que esse direito lhe pertence. Não é de forma alguma a traição de Fernand Mondego para com Ali- Paxá que me leva a desculpá-lo tão prontamente, Sr. de Monte-Cristo, é a traição do pescador Fernand para consigo, são as desventuras inauditas que se seguiram a essa traição. Por isso lhe digo, por isso o proclamo em voz alta: sim, senhor, tinha razão em vingar-se do meu pai, e eu, seu filho, agradeço-lhe não ter feito pior!
Se tivesse caído um raio no meio dos espectadores desta cena inesperada não os teria surpreendido mais do que a declaração de Albert.
Quanto a Monte-Cristo, os seus olhos tinham-se lentamente erguido para o céu com uma expressão de infinito reconhecimento, e não conseguia manifestar suficientemente a sua admiração pela forma como a natureza fogosa de Albert, cuja coragem conhecera no meio dos bandidos romanos, se submetera tão depressa àquela humilhação. Reconheceu nisso a influência de Mercédès e compreendeu por que motivo aquele nobre coração se não opusera ao sacrifício que sabia antecipadamente não se realizar.
- Agora, senhor - disse Albert -, se considera suficientes as desculpas que acabo de lhe apresentar, dê-me a sua mão, por favor. Depois do mérito tão raro da infalibilidade, que parece ser o seu, o primeiro de todos os méritos, na minha opinião, é saber reconhecer a nossa sem-razão. Mas este reconhecimento só a mim diz respeito. Eu procedia bem segundo os homens, mas o senhor procedia bem segundo Deus. Só um anjo podia salvar um de nós da morte, e esse anjo desceu do céu, se não para nos tornar amigos, pois a fatalidade não o permite, pelo menos para nos tornar dois homens que se estimam.
Com os olhos húmidos, o peito arquejante e a boca entreaberta, Monte-Cristo estendeu a Albert uma mão, que este agarrou e apertou com um sentimento que se assemelhava a misterioso terror.
- Meus senhores - prosseguiu Albert -, o Sr. de Monte-Cristo digna-se aceitar as minhas desculpas. Procedi precipitadamente para com ele e a precipitação é má conselheira: procedi mal.
Agora, a minha falta está reparada. Espero que a sociedade me não considere cobarde por ter feito o que a minha consciência me mandou fazer.