O Conde de Monte Cristo - Cap. 96: O contrato Pág. 904 / 1080

- Ela é sobretudo muito rica, segundo creio, pelo menos - disse Monte-Cristo.

- Muito rica... Acha que sim? - inquiriu o rapaz.

- Sem dúvida. Diz-se que o Sr. Danglars esconde pelo menos metade da sua fortuna.

- E ele confessa possuir quinze ou vinte milhões - notou Andrea, com um olhar cintilante de alegria.

- Sem contar - acrescentou Monte-Cristo - que está em vésperas de entrar num género de especulação já um pouco gasto nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas absolutamente novo em França.

- Sim, sim, sei a que se refere: o caminho-de-ferro cuja adjudicação acaba de obter, não é verdade?

- Exactamente! Ganhará pelo menos, é a opinião geral, pelo menos dez milhões nesse negócio.

- Dez milhões! Acha? É magnífico! - exclamou Cavalcanti, inebriado com este ruído metálico de palavras douradas.

- Sem contar - prosseguiu Monte-Cristo - que toda essa fortuna irá parar às suas mãos, meu amigo, como é de justiça, visto Mademoiselle Danglars ser filha única. Aliás, a sua fortuna, meu caro, pelo menos segundo me disse o seu pai, é quase igual à da sua noiva. Mas ponhamos um pouco de parte os negócios de dinheiro. Sabe, Sr. Andrea, que conduziu um tanto lesta e habilmente todo esse negócio?...

- Menos mal, menos mal - confessou o rapaz. - Nasci para diplomata.

- Pois nada impede que o metam na diplomacia! Como sabe, a diplomacia não se aprende, é uma questão de instinto... O coração está portanto preso?

- Na verdade, desconfio que sim - respondeu Andrea, no tom em que vira, no Teatro Francês, Dorante ou Valère responder a Alceste.

- Ama-a um bocadinho?

- Acho que sim, uma vez que me caso - respondeu Andrea, com um sorriso de vencedor. - No entanto, não esqueçamos um pormenor importante.

- Qual?

- Que fui singularmente ajudado em tudo isto.

- Ora!...

- Certamente.

- Pelas circunstâncias?

- Não, pelo senhor.

- Por mim? Não diga isso, príncipe - protestou Monte-Cristo, sublinhando com afectação o título. - Que podia eu fazer por si? Não bastavam o seu nome, a sua posição social e o seu mérito?

- Não - negou Andrea -, não. E por mais que diga, Sr. Conde, insisto que a posição de um homem como o senhor fez mais do que o meu nome, a minha posição social e o meu mérito.

- Engana-se completamente, senhor - disse Monte-Cristo, sentindo a astúcia pérfida do rapaz e compreendendo o alcance das suas palavras. - A minha protecção só lhe foi concedida depois de tomar conhecimento da influência e da fortuna do senhor seu pai. E quem me proporcionou, a mim que nunca os tinha visto, nem a si nem ao autor dos seus dias, o prazer de os conhecer?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069