Se havia algum belo lírio branco ou alguma rosa suave e perfumada, era necessário procurá-lo e descobri-lo, escondido em qualquer canto por uma mãe de turbante ou por uma tia com plumas de ave-do-paraíso.
A cada instante, no meio daquela balbúrdia, daquele burburinho, daqueles risos, a voz dos porteiros gritava um nome conhecido nas Finanças, respeitado no Exército ou ilustre nas Letras, enquanto um fraco movimento dos grupos acolhia esse nome.
Mas por cada um que tinha o privilégio de agitar aquele oceano de vagas humanas, quantos passavam acolhidos pela indiferença ou pelo riso desdenhoso!
No momento em que o ponteiro do relógio maciço, do relógio que representava Endimião adormecido, marcava nove horas no mostrador dourado, e em que a campainha, fiel reprodutora do pensamento maquinal, soava nove vezes, soou também o nome do conde de Monte-Cristo e, como que impelida, pela flama eléctrica, toda a assistência se virou para a porta.
O conde estava vestido de preto e com a sua simplicidade habitual. o colete branco desenhava-lhe o peito amplo e nobre; a sua gravata preta parecia de uma frescura singular, de tal modo sobressaía na máscula palidez do rosto; como única jóia trazia uma corrente no colete, tão delicada que o delgado fio de ouro mal se via no piqué branco.
Fez-se imediatamente um círculo à roda da porta.
Num só relance de olhos o conde viu a Sr.ª Danglars numa extremidade do salão, o Sr. Danglars na outra e Mademoiselle Eugénie diante de si.
Aproximou-se primeiro da baronesa, que conversava com a Sr.ª de Villefort, que viera sozinha, pois Valentine continuava doente; e sem se desviar, de tal modo o caminho se abria diante dele, passou da baronesa a Eugénie, que cumprimentou em termos tão rápidos e reservados que a orgulhosa artista ficou surpreendida.
Junto dela encontrava-se Mademoiselle, Louise de Armilly, que agradeceu ao conde as cartas de recomendação que tão amavelmente lhe dera para a Itália e das quais contava, disse, servir-se frequentemente.
Quando deixou as senhoras, virou-se e encontrou-se perto de Danglars, que se aproximara para o cumprimentar.
Cumpridos estes três deveres sociais, Monte-Cristo deteve-se e passeou à sua volta o olhar firme, dotado dessa expressão característica das pessoas de certo meio, e sobretudo de certa capacidade, olhar que parecia dizer. «Fiz o que devia; agora os outros que façam o que me devem.»
Andrea, que se encontrava num salão contíguo, sentiu a espécie de frémito que Monte-Cristo imprimira à multidão e correu a cumprimentar o conde.