Às quatro ou cinco horas que lhe restavam até às nove gastou-as Andrea em voltas, em visitas destinadas a interessar os amigos de que falara a aparecerem em casa do banqueiro com todo o luxo das suas carruagens, deslumbrando-os com promessas de acções que desde então fizeram todas as cabeças andar à roda e de que naquele momento Danglars tinha a iniciativa.
Com efeito, às oito e meia o grande salão de Danglars, a galeria contígua a esse salão e os três outros salões do mesmo andar estavam cheios de uma multidão perfumada que atraia muito pouco a simpatia, mas muito a irresistível necessidade de estar onde se sabe haver novidades.
Um académico diria que as festas de sociedade são colecções de flores que atraem borboletas inconstantes, abelhas famintas e zangãos zumbidores.
Escusado será dizer que os salões estavam resplandecentes de velas, a luz jorrava das molduras douradas dispostas nas paredes forradas de seda e todo o mau gosto do mobiliário, que tinha apenas a seu favor a riqueza, resplandecia estrepitosamente.
Mademoiselle Eugénie estava vestida com a mais elegante simplicidade: vestido de seda branca e brocado da mesma cor, uma rosa branca meio escondida nos seus cabelos de um negro de azeviche, e pronto, era tudo quanto constituía a sua toilette, que não enriquecia a mais pequena jóia.
Poder-se-ia no entanto ler nos seus olhos uma segurança perfeita, que desmentia o que aquela cândida toilette tinha de vulgarmente virginal a seus próprios olhos.
A Sr.ª Danglars, a trinta passos dela, conversava com Debray, Beauchamp e Château-Renaud. Debray entrara naquela casa para assistir à grande solenidade, mas como toda a gente e sem nenhum privilégio especial.
O Sr. Danglars, rodeado de deputados e financeiros, explicava uma teoria de novas contribuições que esperava pôr em prática quando a força das circunstâncias obrigasse o governo a chamá-lo ao ministério.
Andrea, segurando pelo braço um dos mais elegantes dandys da ópera, explicava-lhe com bastante impertinência, atendendo a que necessitava de ser insolente para parecer à vontade, os seus projectos de vida futura e os progressos de luxo que contava fazer com as suas setenta e cinco mil libras de rendimento na fashion parisiense.
A multidão geral percorria os salões como um fluxo e um refluxo de turquesas, rubis, esmeraldas, opalas e diamantes.
Como sempre, notava-se serem as mulheres mais velhas as mais arrebicadas e as mais feias as que se exibiam mais obstinadamente.