Encontrou-o completamente cercado; os convidados disputavam-lhe as palavras, como acontece sempre com as pessoas que falam pouco e nunca dizem uma palavra sem valor.
Os notários entraram nesse momento e foram colocar os seus papéis garatujados em cima do veludo bordado a ouro que cobria a mesa preparada para a assinatura, mesa de madeira dourada.
Um dos notários sentou-se, o outro ficou de pé.
Ia-se proceder à leitura do contrato que metade de Paris, presente na solenidade, deveria assinar.
Cada um tomou o seu lugar, ou antes, as mulheres fizeram círculo, enquanto os homens, mais indiferentes no tocante ao estilo enérgico, como diz Boileau, comentavam a agitação febril de Andrea, a atenção do Sr. Danglars, a impassibilidadede Eugénie e a forma expedita e descontraída como a baronesa tratava aquele importante assunto.
O contrato foi lido no meio de profundo silêncio. Mas assim que a leitura terminou, o rumor recomeçou nos salões e a dobrar do que fora anteriormente. Aquelas importâncias avultadas, aqueles milhões rolando no futuro dos dois jovens e que vinham completar a exposição que se organizara, numa sala exclusivamente dedicada a esse fim, da corbelha da noiva e dos diamantes da jovem, tinham-se repercutido com todo o seu prestígio na invejosa assistência.
Os encantos de Mademoiselle Danglars eram por isso duplos aos olhos dos jovens e de momento ofuscavam o brilho do Sol.
Quanto às mulheres, escusado será dizer que, embora cobiçando aqueles milhões, não achavam precisar deles para serem belas.
Andrea, perseguido pelos amigos, cumprimentado, adulado, começando a acreditar na realidade do sonho em que vivia, Andrea estava prestes a perder a cabeça. O notário pegou solenemente na pena, ergueu-a acima da cabeça e disse:
- Meus senhores, vamos assinar o contrato.
O barão devia ser o primeiro a assinar, seguido do procurador do Sr. Cavalcanti pai, da baronesa e dos futuros cônjuges, como se diz no estilo abominável usado no papel selado.
O barão pegou na pena e assinou, e depois o procurador.
A baronesa aproximou-se pelo braço da Sr.ª de Villefort.
- Meu amigo - disse, pegando na pena -, não é desesperante? Um incidente inesperado, no caso, de assassínio e roubo, de que o Sr. Conde de Monte-Cristo esteve quase a ser vítima priva-nos da presença do Sr. de Villefort.
- Oh, meu Deus! - exclamou Danglars no mesmo tom em que diria: «Palavra que tudo isso me é absolutamente indiferente!»
- Meu Deus, receio muito ser a causa involuntária dessa ausência! - disse Monte-Cristo, aproximando-se.
- Como?... O senhor, conde? - admirou-se a Sr.ª Danglars, assinando. - Se é assim, acautele-se, porque nunca lhe perdoarei.