De súbito, respondeu a si mesmo com a lógica que o leitor já lhe deve ter notado: «Um gendarme não tem nada de extraordinário numa estalagem. Em todo o caso, vistamo-nos...»
E o jovem vestiu-se com uma rapidez que não conseguira fazer-lhe perder o seu criado de quarto durante os poucos meses de vida social que levara em Paris.
- Bom - disse Andrea enquanto se vestia. - esperarei que se vá embora e quando se for embora, escapar-me-ei.
E ditas estas palavras, Andrea, já calçado e engravatado, aproximou-se devagarinho da janela e soergueu pela segunda vez a cortina de musselina.
Não só o primeiro gendarme se não fora embora, como ainda surgiu aos olhos do jovem segundo uniforme azul, amarelo e branco, ao fundo da escada, a única pela qual poderia descer, enquanto um terceiro, a cavalo e de mosquetão em punho, se conservava de sentinela diante da grande porta da rua, a única pela qual poderia sair.
O terceiro gendarme era deveras significativo, e isto porque atrás dele se estendia um semicírculo de curiosos que bloqueavam hermeticamente a porta da estalagem.
«Procuram-me!», foi o primeiro pensamento de Andrea. «Diabo!»
A palidez invadiu a fronte do rapaz; olhou à sua volta com ansiedade.
O seu quarto, como todos os daquele andar, só tinha saída para a galeria exterior, aberta a todos os olhares.
«Estou perdido!», foi o seu segundo pensamento.
Com efeito, para um homem na situação de Andrea a prisão significava: julgamento, sentença e morte, a morte sem misericórdia e sem demora.
Por instantes comprimiu convulsivamente a cabeça entre as mãos.
Durante esses instantes, quase enlouqueceu de medo.
Mas daquele mundo de pensamentos que se lhe entrechocavam na cabeça não tardou a brotar um pensamento de esperança. Nos lábios descorados desenhou-se-lhe um sorriso pálido, que lhe iluminou as faces contraídas.
Olhou à sua volta. Os objectos que procurava encontravam-se reunidos em cima do mármore de uma secretária: eram uma pena, tinta e papel.
Molhou a pena na tinta e escreveu com mão que se esforçou por tornar firme as seguintes linhas, na primeira folha do caderno:
«Não tenho dinheiro para pagar, mas não sou um homem desonesto. Deixo em penhor este alfinete, que vale dez vezes a despesa que fiz. Espero me desculpem ter fugido ao amanhecer, tive vergonha! »
Tirou o alfinete da gravata e pô-lo em cima do papel.