O Conde de Monte Cristo - Cap. 98: A estalagem do sino e da garrafa Pág. 923 / 1080

Feito isto, em vez de deixar o fecho corrido, abriu-o, entreabriu mesmo a porta, como se tivesse saído do quarto e se houvesse esquecido de o fechar, e metendo-se na chaminé como homem habituado àquele género de ginástica, puxou para si a antepara de papel que representava Aquiles com Deidamia, apagou com os próprios pés os vestígios dos seus passos nas cinzas e começou a escalar o tubo curvo que lhe oferecia a única via de salvação em que ainda podia ter alguma esperança.

Naquele preciso momento, o primeiro gendarme que Andrea vira subia a escada, precedido pelo comissário de polícia, e apoiado pelo segundo gendarme, que guardava o fundo da escada, o qual contava por seu turno com o apoio do que se encontrava à porta.

Eis a que circunstância Andrea devia a visita que com tanta dificuldade se dispunha a receber.

Ao amanhecer, os telégrafos tinham funcionado em todas as direcções, e cada posto, prevenido quase imediatamente, avisara as autoridades e lançara a força pública em busca do assassino de Caderousse.

Compiègne, residência real: Compiègne, cidade de caça; Compiègne, cidade de guarnição, estava abundantemente fornecida de autoridades, gendarmes e comissários de polícia.

As buscas tinham portanto começado logo após a recepção da ordem telegráfica, e como a Estalagem do Sino e da Garrafa era o principal estabelecimento hoteleiro da cidade, começara-se muito naturalmente por ele.

Aliás, segundo o relatório das sentinelas que tinham estado durante a noite de guarda à câmara municipal (a câmara municipal ficava contígua à Estalagem do sino), segundo o relatório das sentinelas, dizíamos, verificara-se durante a noite a chegada de vários viajantes à estalagem.

A sentinela que fora rendida às seis da manhã recordava-se até de, no momento em que ocupara o seu posto, isto é, às quatro horas e poucos minutos, ter visto um jovem montado num cavalo branco e com um camponiozito na garupa, jovem que desmontara na praça, mandara embora o campónio e o cavalo e fora bater à porta da Estalagem do Sino, que se abrira diante dele e se fechara nas suas costas.

Fora sobre esse jovem tão singularmente retardatário que tinham recaído as suspeitas.

Ora, o jovem era precisamente Andrea.

E era baseados nestes dados que o comissário de polícia e o gendarme, um cabo, se encaminhavam para a porta de Andrea, que estava entreaberta.

- Oh, oh, mau sinal uma porta aberta! - exclamou o cabo, velha raposa batida nas manhas da profissão. - Preferia vê-la fechada a sete chaves! Com efeito, o bilhete e o alfinete deixados por Andrea em cima da secretária confirmaram ou, antes, apoiaram a triste realidade: Andrea fugira.

Dizemos apoiaram porque o cabo não era homem que se contentasse com uma única prova.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069