O Conde de Monte Cristo - Cap. 98: A estalagem do sino e da garrafa Pág. 924 / 1080

Olhou à sua volta, espreitou debaixo da cama, correu os cortinados, abriu os armários e por fim deteve-se diante da chaminé.

Graças às precauções de Andrea, nenhum vestígio da sua passagem ficara nas cinzas.

Contudo, era uma saída, e nas circunstâncias em que se encontravam, todas as saídas deviam ser objecto de rigorosa investigação.

O cabo mandou portanto trazer um molho de lenha e palha e encheu a chaminé como se fosse um morteiro. Em seguida largou fogo a tudo.

O lume fez estalar as paredes de tijolo e uma densa coluna de fumo subiu pela chaminé e foi expelida para o céu como o jacto negro de um vulcão. Ninguém viu, porém, cair o fugitivo, como se esperava.

É que Andrea, desde a sua primeira juventude em luta com a sociedade, valia bem um gendarme, ainda que esse gendarme fosse um respeitável cabo: previra portanto o incêndio, alcançara o telhado e escondera-se atrás da chaminé.

Por momentos teve alguma esperança de se encontrar salvo, pois ouviu o cabo chamar os dois gendarmes e gritar-lhes:

- Não está cá!

Mas, estendendo cautelosamente o pescoço, viu que os dois gendarmes, em vez de se retirarem, como seria natural, à primeira chamada, viu, dizíamos, que, pelo contrário, os dois gendarmes redobravam de atenção.

Olhou por seu turno em redor: a câmara municipal, edifício colossal do século XVI, erguia-se diante de si como uma muralha sombria; à direita, pelas janelas do monumento, podiam-se observar todos os cantos e recantos do telhado da estalagem, tal como do alto de uma montanha se vê o vale.

Andrea adivinhou que de um momento para o outro veria aparecer a cabeça do cabo de gendarmes em qualquer daquelas janelas.

Descoberto, estaria perdido; uma perseguição nos telhados não lhe apresentava nenhuma probabilidade de êxito.

Resolveu portanto voltar a descer, não pelo mesmo caminho por onde viera, mas sim por um caminho análogo.

Procurou com a vista uma chaminé donde não saísse qualquer fumo, alcançou-a rastejando pelo telhado e desapareceu no orifício sem ser visto por ninguém

No mesmo instante abriu-se uma janelinha da câmara municipal e deu passagem à cabeça do cabo de gendarmes.

Por momentos essa cabeça ficou imóvel como um dos relevos de pedra que decoravam o edifício, depois, com um longo suspiro de decepção, a cabeça desapareceu.

O cabo, calmo e digno como a lei que representava, passou sem responder às mil e uma perguntas da multidão aglomerada na praça e voltou a entrar na estalagem.

- Então? - perguntaram por sua vez os dois gendarmes.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069