O Conde de Monte Cristo - Cap. 99: A lei Pág. 933 / 1080

- Ai de mim, minha senhora - respondeu o procurador régio com a sua calma imperturbável -, habituei-me a só chamar desgraça às coisas irreparáveis!

- Acha então que as pessoas esquecerão?...

- Tudo esquece, minha senhora - respondeu Villefort, - O casamento da sua filha far-se-á amanhã, se não se fizer hoje, ou daqui a oito dias, se não se fizer amanhã. E quanto a lamentar o futuro de Mademoiselle Eugénie, não creio que seja essa a sua ideia.

A Sr.ª Danglars fitou Villefort, estupefacta por lhe ver aquela tranquilidade quase zombeteira.

- Terei vindo procurar um amigo? - perguntou num tom cheio de dolorosa dignidade.

- Bem sabe que sim, minha senhora - respondeu Villefort, cujas faces se cobriram de um leve rubor ao fazer esta afirmação.

Com efeito, tal afirmação referia-se a outros acontecimentos e não àqueles que ocupavam naquele momento a baronesa e ele próprio.

- Nesse caso, seja mais afectuoso, meu caro Villefort - redarguiu a baronesa. - Fale-me como amigo e não como magistrado, e quando me sinto profundamente infeliz não me diga que devo estar alegre.

Villefort inclinou-se.

- Quando ouço falar de desventuras, minha senhora, não posso deixar de me lembrar que adquiri há três meses o hábito de pensar nas minhas, e então, mal-grado meu, realiza-se no meu espírito essa egoísta operação do paralelo. É por isso que, comparadas com as minhas desventuras, as suas me parecem contrariedades. E é por isso também que, comparada com a minha funesta situação, a sua me parece invejável. Mas se isso a contraria, deixemo-lo. Dizia, minha senhora?...

- Venho pedir-lhe que me diga, meu amigo, em que pé se encontra o caso desse impostor - respondeu a baronesa.

- Impostor! - repetiu Villefort. - Decididamente, minha senhora, é pecha sua atenuar certas coisas e exagerar outras. Impostor o Sr. Andrea Cavalcanti, ou antes o Sr. Benedetto! Engana-se, minha senhora, o Sr. Benedetto é realmente um assassino.

- Senhor, não nego a justeza da sua rectificação; mas quanto mais severamente se encarniçar contra esse desgraçado, tanto mais prejudicará a nossa família. Vamos, esqueça-o por um momento; em vez de o perseguir, deixe-o fugir...

- Chegou demasiado tarde, minha senhora; as ordens já foram dadas.

- Nesse caso, se o apanharem... Acha que o apanham?

- Tenho essa esperança.

- Se o apanharem... ouça, sempre ouvi dizer que as prisões estão a transbordar... Pois se o apanharem, deixe-o na prisão.

O procurador régio fez um gesto negativo.

- Pelo menos até a minha filha se casar - acrescentou a baronesa.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069