O Conde de Monte Cristo - Cap. 99: A lei Pág. 934 / 1080

- Impossível, minha senhora. A justiça tem as suas formalidades.

- Mesmo para mim? - observou a baronesa, meio sorridente, meio séria.

- Para todos - respondeu Villefort. - E para mim mesmo como para os outros.

- Ah! - exclamou a baronesa, sem acrescentar em palavras o que o seu pensamento acabava de deixar transparecer nesta exclamação.

Villefort fitou-a com o olhar com que sondava os pensamentos.

- Sim, sei o que quer dizer - prosseguiu. - Refere-se a esses boatos terríveis espalhados na sociedade de que todas estas mortes que há três meses me vestem de luto e de que a morte à qual, como que por milagre, acaba de escapar Valentine não são naturais.

- Não pensava de modo algum nisso - replicou vivamente a Sr.ª Danglars.

- Pensava, sim, minha senhora, e era justo, pois não podia deixar de pensar e dizer para consigo, baixinho: «Tu, que persegues o crime, responde: "Porque se verificam à tua volta crimes que ficam impunes?"»

A baronesa empalideceu.

- Dizia isto para consigo, não é verdade, minha senhora?

- Sim... confesso.

- Vou responder-lhe.

Villefort aproximou a sua poltrona da cadeira da Sr.ª Danglars, apoiou as mãos na secretária e disse, numa intonação mais abafada do que de costume:

- Há crimes que permanecem impunes porque se não sabe quem são os criminosos e se receia atingir uma cabeça inocente em vez de uma cabeça culpada. Mas quando esses criminosos forem descobertos - e Villefort, estendeu a mão para um crucifixo colocado defronte da secretária -, quando esses criminosos forem descobertos - repetiu -, pelo Deus vivo, minha senhora, sejam quem forem, morrerão! Agora, depois do juramento que acabo de fazer e que cumprirei, minha senhora, ainda ousa pedir-me compaixão para esse miserável?

- Tem a certeza de que é tão culpado como dizem? - inquiriu a Sr.ª Danglars.

- Tenho aqui o seu processo. Escute: Benedetto, condenado inicialmente a cinco anos de galés por falsificação, aos dezasseis anos. (O rapaz prometia, como vê...) Depois evadido e em seguida assassino.

- E quem é esse desgraçado?

- Oh, isso sabe-se! Um vagabundo, um corso.

- Ninguém intercedeu por ele?

- Ninguém. Não se sabe quem são os seus pais.

- Mas esse homem que veio de Luca?

- Outro patife como ele; seu cúmplice, talvez.

A baronesa juntou as mãos.

- Villefort... - disse com a sua mais meiga e acariciadora intonação.

- Por Deus, minha senhora - respondeu o procurador régio com uma firmeza não isenta de secura -, por Deus, nunca me peça que tenha compaixão de um culpado!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069