A jovem estremeceu até ao fundo do coração, mas não respondeu.
- Valentine! - repetiu a mesma voz.
Igual silêncio: Valentine prometera não acordar.
Depois tudo permaneceu imóvel.
Valentine ouviu apenas o ruído quase imperceptível de um líquido a cair no copo que acabara de despejar.
Então atreveu-se, a coberto do braço estendido, a entreabrir as pálpebras.
Viu uma mulher de penteador branco que deitava no copo um licor preparado antecipadamente num frasco.
Durante esse curto instante, Valentine conteve talvez a respiração ou fez sem dúvida algum movimento porque a mulher deteve-se e inclinou-se sobre a cama para ver melhor se ela dormia realmente: era a Sr.ª de Villefort.
Ao reconhecer a madrasta, Valentine foi atacada por calafrios intensos, que imprimiram movimento à cama.
A Sr.ª de Villefort afastou-se imediatamente ao longo da parede e aí, escondida atrás dos cortinados da cama, muda, atenta, espiou o mais pequeno movimento de Valentine.
Esta recordou-se das terríveis palavras de Monte-Cristo; parecera-lhe ver brilhar na mão que segurava o frasco uma espécie de punhal comprido e aguçado. Então, apelando para toda a força da sua vontade em seu auxílio, esforçou-se por fechar os olhos. Mas tal função do mais sensível dos nossos sentidos, tal função, habitualmente tão simples, tornava-se naquele momento quase impossível de executar, de tal modo a ávida curiosidade se esforçava por repelir as pálpebras e atrair a verdade.
Entretanto, tranquilizada pelo silêncio em que recomeçara a ouvir-se o ruído compassado da respiração de Valentine, sinal de que esta dormia, a Sr.ª de Villefort estendeu de novo o braço e, permanecendo meio escondida pelos cortinados apanhados à cabeceira da cama, acabou de deitar no copo de Valentine o conteúdo do frasco.
Depois retirou-se, sem que o mais pequeno ruído advertisse Valentine de que se fora embora.
Esta vira apenas desaparecer o braço, mais nada; o braço fresco e torneado de uma mulher de vinte e cinco anos, jovem e bela que derramava a morte.
É impossível exprimir o que Valentine experimentou durante o minuto e meio que a Sr.ª de Villefort permanecera no seu quarto.
O ruído de unhas na estante arrancou a jovem ao estado de torpor em que mergulhara e que se assemelhava à perda dos sentidos.
Levantou a cabeça com esforço.
A porta, sempre silenciosa, girou segunda vez nos gonzos e o conde de Monte-Cristo reapareceu.
- Então, ainda duvida? - perguntou o conde.
- Oh, meu Deus! - murmurou a jovem.
- Viu?
- Infelizmente!
- Reconheceu a pessoa?
Valentine soltou um gemido.