Lavada em lágrimas, com essa multidão de que nos contam a história dolorosa, viam-na vaguear constantemente à volta da aldeiazinha dos Catalães, umas vezes parada debaixo do sol ardente do Meio- Dia, de pé, imóvel, muda como uma estátua, a olhar para Marselha, outras vezes sentada à beira-mar, a escutar os queixumes das águas, eternos como a sua dor, e perguntando-se sem cessar se não valeria mais inclinar-se para a frente, deixar-se levar pelo seu próprio peso, abrir o abismo e engolfar-se nele, do que sofrer assim todas as cruéis alternativas de uma espera sem esperança.
Não foi coragem o que faltou a Mercédès para pôr em prática tal projecto, foi a religião que veio em seu auxílio e a salvou do suicídio.
Caderousse foi convocado, como Fernand. Simplesmente, como tinha mais oito anos do que o catalão e era casado, só fez parte do terceiro turno e enviaram-no para as costas.
O velho Dantès, que já só era amparado pela esperança, perdeu-a com a queda do imperador.
Passados cinco meses, dia a dia depois de ter sido separado do filho e quase à mesma hora em que fora preso, soltou o derradeiro suspiro nos braços de Mercédès. O Sr. Morrel chamou a si todas as despesas do funeral e pagou as pobres dividazinhas que o velhote fizera durante a sua doença. Havia mais do que beneficência em proceder assim, havia coragem.
O Meio- Dia estava em logo, e socorrer, mesmo no seu leito de morte, o pai de um bonapartista tão perigoso como Dantès era um crime.