O Conde de Monte Cristo - Cap. 104: A assinatura de Danglars Pág. 965 / 1080

- Um, dois, três, quatro, cinco - contou Monte-Cristo. - Cinco milhões! Apre, que desembaraço, Sr. Creso!

- Aqui tem como trato dos negócios - declarou Danglars - É maravilhoso, sobretudo se, como, não duvido, essa importância for paga em numerário.

- Sê-lo-á - redarguiu Danglars.

- É bom ter semelhante crédito. Na verdade, só em França se vêem coisas assim: cinco pedaços de papel valem cinco milhões. Apetece ver para crer.

- Duvida?

- Não.

- Diz isso num tom... Olhe, tenha esse prazer: leve o meu tesoureiro ao banco e vê-lo-á sair com ordens sobre o Tesouro da mesma importância.

- Não - disse Monte-Cristo, dobrando as cinco ordens. - Assim, não. O caso é deveras curioso e farei eu próprio a experiência. O meu crédito sobre o senhor era de seis milhões; levantei novecentos mil francos, deve-me cinco milhões e cem mil francos. Fico com os seus cinco pedaços de papel, que para considerar válidos me basta estarem assinados por si, e aqui tem um recibo total de seis milhões, que regulariza a nossa conta. Passei-o antecipadamente porque devo confessar-lhe que tenho muita necessidade de dinheiro hoje.

E com uma das mãos Monte-Cristo meteu as cinco ordens na algibeira, enquanto com a outra estendia o recibo ao banqueiro.

Um raio que tivesse caído aos pés de Danglars não o teria aterrado mais.

- O quê... o quê? - balbuciou. - O Sr. Conde leva esse dinheiro? Mas, perdão, perdão, é dinheiro que devo aos Hospícios, um depósito, e prometi pagá-lo esta manhã...

- Bom, isso é diferente - disse Monte-Cristo. - Não considero obrigatório receber precisamente nestas cinco ordens; pague-me noutros valores. Peguei nestes apenas por curiosidade, a fim de poder dizer a toda a gente que, sem qualquer aviso, sem me pedir cinco minutos de espera, a casa Danglars pagara-me cinco milhões em numerário! Seria notável! Mas aqui tem os seus valores: repito-lhe, dê-me outros.

E estendia os cinco documentos a Danglars, que, lívido, estendeu primeiro a mão para os varões do cubículo do cofre, tal como um abutre estende as garras para defender a carne que lhe querem tirar.

De súbito reconsiderou, fez um esforço violento e conteve-se.

Depois sorriu, suavizaram-se-lhe pouco a pouco os traços do rosto transtornado.

- De facto, o seu recibo é de dinheiro - observou.

- Evidentemente, meu Deus! E se o senhor estivesse em Roma, a casa Thomson & French, perante um recibo meu, não poria mais dificuldade em pagar-lhe do que o senhor mesmo pôs.

- Perdão, Sr. Conde, perdão.

- Posso portanto guardar este dinheiro? - Pode - respondeu Danglars, limpando o suor que lhe perlava a raiz dos cabelos. - Guarde-o, guarde-o.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069