O Conde de Monte Cristo - Cap. 104: A assinatura de Danglars Pág. 964 / 1080

- Ainda por cima, o quê? - perguntou Monte-Cristo.

- Então ainda não sabe?

- A que nova desgraça se refere?

- A minha filha...

- Mademoiselle Danglars?

- Eugénie deixou-nos.

- Oh, meu Deus, que diz o senhor?!

- A verdade, meu caro conde. Meu Deus, como o senhor é feliz por não ter mulher nem filhos!

- Acha?

- Ah, meu Deus!

- E diz que Mademoiselle Danglars...

- Não pôde suportar a afronta que nos fez esse miserável e pediu-me licença para ir viajar.

- E partiu?

- A noite passada.

- Com a Sr.ª Danglars?

- Não, com uma parenta... Mas nem por isso a perdemos menos, a querida Eugénie, pois duvido que, com o carácter que lhe conheço, consinta alguma vez em regressar a França!

- Enfim, meu caro barão - disse Monte-Cristo -, desgostos de família, desgostos que seriam pungentes para um pobre diabo cuja filha fosse toda a sua fortuna, mas suportáveis para um milionário. Por mais que os filósofos preguem o contrário, os homens práticos desmenti-los-ão sempre a tal respeito: o dinheiro consola de muitas coisas. E o senhor consolar-se-á mais depressa do que qualquer outro, se admitir a virtude desse bálsamo soberano, porque o senhor é o rei da finança, o ponto de intersecção de todos os poderes!

Danglars olhou de soslaio para o conde, a fim de ver se zombava ou falava a sério.

- Sim, se de facto a fortuna consola, eu devo estar consolado: sou rico...

- Tão rico, meu caro barão, que a sua fortuna se assemelha às Pirâmides: quisessem demoli-las, e não ousariam; ousassem, e não o conseguiriam...

Danglars sorriu da confiante bonomia do conde.

- Isso recorda-me - disse - que quando o senhor entrou estava a passar cinco ordenzinhas. Já tinha assinado duas; dá-me licença que passe as outras três?

- Com certeza, meu caro barão, com certeza.

Seguiu-se um instante de silêncio durante o qual se ouviu ranger a pena do banqueiro, enquanto Monte-Cristo observava as molduras douradas do tecto.

- Ordens sobre Espanha, sobre o Haiti ou sobre Nápoles? - perguntou Monte-Cristo.

- Não. - respondeu Danglars, rindo presunçosamente - Ordens ao portador, sobre o Banco de França. Veja, Sr. Conde - acrescentou. - o senhor, que é o imperador da finança, tal como eu sou o rei, já viu muitos bocados de papel deste tamanho valerem cada um deles um milhão?

Monte-Cristo tomou na mão, como que para os pesar, os cinco bocados de papel que Danglars lhe estendia orgulhosamente e leu:

Praza ao Sr. Governador do Banco mandar pagar à minha ordem e sobre os fundos depositados por mim a quantia de um milhão, valor em conta. - Barão Danglars.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069