O Conde de Monte Cristo - Cap. 105: O Cemitério do Père-lachaise Pág. 972 / 1080

- É verdade. No entanto, lembro-me de que nesse baile em casa da Sr.ª de Morcerf dançou três vezes com ela. O senhor sabe, conde, aquele baile em que o senhor causou tanta impressão...

- Não, não sei - respondeu Monte-Cristo, sem sequer saber a quê nem a quem respondia, ocupado como estava a vigiar Morrel, cujas faces se animavam como acontece àqueles que comprimem ou retêm a respiração.

- Acabaram os discursos. Adeus, meus senhores - disse bruscamente o conde.

E deu o sinal de partida, desaparecendo sem que se soubesse por onde se esgueirara.

Terminada a cerimónia fúnebre, os presentes retomaram o caminho de Paris.

Château-Renaud ainda procurou um instante Morrel com a vista; mas enquanto seguira com o olhar o conde, que se afastava, Morrel deixara o seu lugar e Château-Renaud, depois de o procurar em vão, seguira Debray e Beauchamp.

Monte-Cristo correu para um renque de árvores e, oculto atrás de um grande túmulo, seguia os mais pequenos movimentos de Morrel, que pouco a pouco se aproximara do jazigo abandonado pelos curiosos e depois pelos coveiros.

Morrel olhou à sua volta lenta e vagamente. Mas no momento em que o seu olhar abarcava a porção de círculo oposta à sua, Monte-Cristo aproximou-se mais de uma dezena de passos sem ser visto.

O rapaz ajoelhou.

De pescoço estendido, olhos fixos e dilatados e as pernas dobradas como para se lançar ao primeiro sinal, o conde continuava a aproximar-se de Morrel.

Morrel inclinou a fronte até à pedra, agarrou o gradeamento com ambas as mãos e murmurou:

- Oh, Valentine!...

Estas duas palavras repercutiam-se profundamente no coração do conde, que deu mais um passo, bateu no ombro de Morrel e disse:

- Procurava-o, caro amigo...

Se esperava uma explosão, censuras, recriminações, Monte-Cristo enganava-se.

Morrel virou-se para o seu lado e disse com ar calmo:

- Como vê, rezava.

O olhar perscrutador do conde percorreu o rapaz dos pés à cabeça.

Depois deste exame pareceu mais tranquilo.

- Quer que o leve a Paris? - perguntou.

- Não, obrigado.

- Mas, enfim, deseja alguma coisa?

- Deixe-me rezar.

O conde afastou-se sem fazer uma única objecção, mas para ocupar novo posto de observação donde não perdia um único gesto de Morrel, que por fim se levantou, limpou os joelhos deixados brancos pela pedra e tomou o caminho de Paris sem virar uma única vez a cabeça.

Desceu lentamente a Rua da Roquette.

O conde mandou embora a sua carruagem, estacionada no Père-Lachaise, e seguiu-o a cem passos. Maximilien atravessou o canal e entrou na Rua Meslay pelos bulevares.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069