Cinco minutos depois de a porta ser fechada por Morrel, abriu-se para Monte-Cristo.
Julie estava à entrada do jardim a observar com a mais profunda atenção mestre Penelon, que, levando a sua profissão de jardineiro a sério, enxertava de estaca roseiras-de-bengala.
- Olha o Sr. Conde de Monte-Cristo! - exclamou com a alegria que habitualmente manifestavam todos os membros da família quando Monte-Cristo visitava a Rua Meslay.
- Maximilien acaba de entrar, não é verdade, minha senhora? - perguntou o conde.
- Sim, creio que o vi passar - confirmou a jovem senhora. - Mas, por favor, chame Emmanuel.
- Perdão, minha senhora, mas preciso de subir imediatamente aos aposentos de Maximilien - respondeu Monte-Cristo - Tenho de lhe dizer uma coisa da mais alta importância.
- Então vá - disse ela, acompanhando-o com o seu sorriso encantador até o conde desaparecer na escada.
Monte-Cristo depressa transpôs os dois andares que separavam o rés-do-chão dos aposentos de Maximilien. Chegado ao patamar, escutou: não se ouvia nenhum ruído Como na maioria das casas antigas habitadas por um único locatário, as divisões que deitavam para o patamar eram fechadas apenas por uma porta envidraçada.
Simplesmente, naquela porta envidraçada não havia nenhuma chave. Maximilien fechara-se por dentro e era impossível ver para lá da porta, pois um cortinado de seda vermelha cobria os vidros.
A ansiedade do conde manifestava-se por um vivo rubor, sintoma de emoção pouco habitual naquele homem impassível.
- Que fazer?... - murmurou.
Reflectiu um instante.
- Tocar? - prosseguiu. - Oh, não! Muitas vezes o toque de uma campainha, isto é, de uma visita, acelera a resolução daqueles que se encontram na situação em que Maximilien se deve encontrar neste momento, e então ao toque da campainha responde outro ruído...
Monte-Cristo estremeceu dos pés à cabeça e, como em si a decisão tinha a rapidez do relâmpago, deu uma cotovelada num dos vidros da porta, que voou em estilhas. Depois, levantou o cortinado e viu Morrel, que, diante da sua escrivaninha, com uma pena na mão, acabava de saltar na cadeira, surpreendido pelo barulho do vidro ao quebrar-se.
- Não é nada - disse o conde. - Mil perdões, meu caro amigo! Escorreguei e bati com o cotovelo no vidro. Já agora, uma vez que se partiu, aproveito para entrar. Não se incomode, não se incomode! E, metendo o braço pelo vidro quebrado, abriu a porta.
Morrel levantou-se imediatamente, contrariado, e veio ao encontro de Monte-Cristo, menos para o receber do que para lhe barrar a passagem.