O Conde de Monte Cristo - Cap. 105: O Cemitério do Père-lachaise Pág. 973 / 1080

Cinco minutos depois de a porta ser fechada por Morrel, abriu-se para Monte-Cristo.

Julie estava à entrada do jardim a observar com a mais profunda atenção mestre Penelon, que, levando a sua profissão de jardineiro a sério, enxertava de estaca roseiras-de-bengala.

- Olha o Sr. Conde de Monte-Cristo! - exclamou com a alegria que habitualmente manifestavam todos os membros da família quando Monte-Cristo visitava a Rua Meslay.

- Maximilien acaba de entrar, não é verdade, minha senhora? - perguntou o conde.

- Sim, creio que o vi passar - confirmou a jovem senhora. - Mas, por favor, chame Emmanuel.

- Perdão, minha senhora, mas preciso de subir imediatamente aos aposentos de Maximilien - respondeu Monte-Cristo - Tenho de lhe dizer uma coisa da mais alta importância.

- Então vá - disse ela, acompanhando-o com o seu sorriso encantador até o conde desaparecer na escada.

Monte-Cristo depressa transpôs os dois andares que separavam o rés-do-chão dos aposentos de Maximilien. Chegado ao patamar, escutou: não se ouvia nenhum ruído Como na maioria das casas antigas habitadas por um único locatário, as divisões que deitavam para o patamar eram fechadas apenas por uma porta envidraçada.

Simplesmente, naquela porta envidraçada não havia nenhuma chave. Maximilien fechara-se por dentro e era impossível ver para lá da porta, pois um cortinado de seda vermelha cobria os vidros.

A ansiedade do conde manifestava-se por um vivo rubor, sintoma de emoção pouco habitual naquele homem impassível.

- Que fazer?... - murmurou.

Reflectiu um instante.

- Tocar? - prosseguiu. - Oh, não! Muitas vezes o toque de uma campainha, isto é, de uma visita, acelera a resolução daqueles que se encontram na situação em que Maximilien se deve encontrar neste momento, e então ao toque da campainha responde outro ruído...

Monte-Cristo estremeceu dos pés à cabeça e, como em si a decisão tinha a rapidez do relâmpago, deu uma cotovelada num dos vidros da porta, que voou em estilhas. Depois, levantou o cortinado e viu Morrel, que, diante da sua escrivaninha, com uma pena na mão, acabava de saltar na cadeira, surpreendido pelo barulho do vidro ao quebrar-se.

- Não é nada - disse o conde. - Mil perdões, meu caro amigo! Escorreguei e bati com o cotovelo no vidro. Já agora, uma vez que se partiu, aproveito para entrar. Não se incomode, não se incomode! E, metendo o braço pelo vidro quebrado, abriu a porta.

Morrel levantou-se imediatamente, contrariado, e veio ao encontro de Monte-Cristo, menos para o receber do que para lhe barrar a passagem.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069