O Conde de Monte Cristo - Cap. 106: A partilha Pág. 985 / 1080

A baronesa empalideceu, aterrada, à medida que escutava este discurso com tanto, mais espanto e desespero quanto maior era a calma e a indiferença com que Debray o pronunciava.

- Abandonada! - repetiu ela. - oh, e bem abandonada!... Sim, tem razão, senhor, e ninguém duvidará do meu abandono.

Foram estas as únicas palavras que aquela mulher, tão orgulhosa e violentamente apaixonada, conseguiu responder a Debray

- Mas rica, muito rica mesmo - prosseguiu Debray, tirando da carteira e espalhando-os em cima da mesa alguns papéis que continha.

A Sr.ª Danglars esperou que ele acabasse, muito ocupada a conter as pulsações do coração e a reter as lágrimas que sentia perlarem-lhe as extremidades das pálpebras. Mas por fim o sentimento da dignidade levou a melhor na baronesa, e se não conseguiu conter o coração, conseguiu pelo menos não chorar.

- Minha senhora - disse Debray -, há cerca de seis meses que nos associámos. A senhora entrou com uma quota de cem mil francos. A nossa sociedade foi constituída em Abril deste ano.

»Em Maio iniciámos as nossas operações. E ainda em Maio ganhámos quatrocentos e cinquenta mil francos. Em Junho, o lucro ascendeu a novecentos mil. Em Julho, adicionámos-lhe um milhão e setecentos mil francos; foi, como sabe, o mês dos títulos de Espanha. Em Agosto, perdemos no começo do mês trezentos mil francos; mas em 15 desse mesmo mês tínhamo-los recuperado e no fim do mês tínhamo-nos desforrado, pois as nossas contas, apuradas desde o dia da nossa associação até ontem, em que as fechei, dão-nos um activo de dois milhões e quatrocentos mil francos, isto é, um milhão e duzentos mil francos para cada um.

»Agora - continuou Debray, compulsando a sua agenda com o método e a tranquilidade de um cambista - temos oitenta mil francos de juros compostos daquela importância que se encontra em meu poder...

- Mas - interrompeu-o a baronesa - que significam esses juros, se o senhor nunca aplicou esse dinheiro?

- Peço-lhe perdão, minha senhora - respondeu friamente Debray -, mas tinha procuração sua para o aplicar e utilizei a sua procuração. Tem portanto a haver quarenta mil francos de juros, mais os cem mil francos da quota inicial, isto é, um milhão trezentos e quarenta mil francos à sua parte. Ora, minha senhora - continuou Debray -, tomei a precaução de mobilizar anteontem o seu dinheiro; não há muito tempo, como vê, e dir-se-ia que já esperava ser chamado urgentemente a prestar-lhe contas. O dinheiro está aqui, metade em notas e metade em títulos ao portador.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069