O Conde de Monte Cristo - Cap. 106: A partilha Pág. 984 / 1080

Quando acabou, Debray dobrou lentamente o papel e recaiu na sua atitude pensativa.

- Então? - perguntou a Sr.ª Danglars, com uma ansiedade fácil de compreender.

- Então o quê, minha senhora? - perguntou maquinalmente Debray.

- Que ideia lhe inspira essa carta?

- Uma muito simples, minha senhora: inspira-me a ideia de que o Sr. Danglars partiu com suspeitas.

- Sem dúvida. Mas é tudo o que tem para me dizer?

- Não compreendo - disse Debray, com uma frieza glacial.

- Partiu! Partiu definitivamente! Partiu para não mais voltar!

- Não acredite nisso, baronesa - redarguiu Debray.

- Não, digo-lhe eu, não voltará. Conheço-o, é um homem inquebrantável em todas as resoluções que são de seu interesse. Se me julgasse útil para alguma coisa, ter-me-ia levado. Se me deixa em Paris é porque a nossa separação pode ser útil aos seus projectos. É portanto irrevogável e estou livre para sempre - acrescentou a Sr.ª Danglars com a mesma expressão de súplica.

Mas Debray, em vez de responder, deixou-a na ansiosa interrogação do olhar e do pensamento.

- Então o senhor não me responde? - perguntou ela por fim.

- Só tenho uma pergunta a fazer-lhe: quais são os seus planos?

- Ia perguntar-lhe o mesmo -, respondeu a baronesa, com o coração palpitante. - Que devo fazer?

- Ah!... - exclamou Debray. - É portanto um conselho que me pede?

- Sim, é um conselho que lhe peço - respondeu a baronesa, com o coração apertado.

- Então se é um conselho que me pede - respondeu friamente o rapaz -, aconselho-a a ir viajar.

- Viajar!... - murmurou a Sr.ª Danglars.

- Certamente. Como disse o Sr. Danglars, é rica e absolutamente livre. Uma ausência de Paris será indispensável, pelo menos segundo creio, depois do duplo escândalo da anulação do casamento de Mademoiselle Eugénie e do desaparecimento do Sr. Danglars. A única coisa que interessa agora é que toda a gente a saiba abandonada e a julgue pobre; porque ninguém perdoaria à mulher do falido a sua opulência e o estadão da sua casa. Para o primeiro caso, basta que fique apenas quinze dias em Paris e que repita a toda a gente que foi abandonada. Diga-o às suas melhores amigas, que elas se encarregarão de espalhar na sociedade como tal abandono se deu. Depois, deixará o seu palácio, e nele as suas jóias, renunciará a qualquer indemnização, e toda a gente elogiará o seu desinteresse e lhe cantará louvores. Então, sabê-la-ão abandonada e considerá-la-ão pobre, porque só eu conheço a sua situação financeira e estou pronto a prestar-lhe contas como leal associado.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069