Quando acabou, Debray dobrou lentamente o papel e recaiu na sua atitude pensativa.
- Então? - perguntou a Sr.ª Danglars, com uma ansiedade fácil de compreender.
- Então o quê, minha senhora? - perguntou maquinalmente Debray.
- Que ideia lhe inspira essa carta?
- Uma muito simples, minha senhora: inspira-me a ideia de que o Sr. Danglars partiu com suspeitas.
- Sem dúvida. Mas é tudo o que tem para me dizer?
- Não compreendo - disse Debray, com uma frieza glacial.
- Partiu! Partiu definitivamente! Partiu para não mais voltar!
- Não acredite nisso, baronesa - redarguiu Debray.
- Não, digo-lhe eu, não voltará. Conheço-o, é um homem inquebrantável em todas as resoluções que são de seu interesse. Se me julgasse útil para alguma coisa, ter-me-ia levado. Se me deixa em Paris é porque a nossa separação pode ser útil aos seus projectos. É portanto irrevogável e estou livre para sempre - acrescentou a Sr.ª Danglars com a mesma expressão de súplica.
Mas Debray, em vez de responder, deixou-a na ansiosa interrogação do olhar e do pensamento.
- Então o senhor não me responde? - perguntou ela por fim.
- Só tenho uma pergunta a fazer-lhe: quais são os seus planos?
- Ia perguntar-lhe o mesmo -, respondeu a baronesa, com o coração palpitante. - Que devo fazer?
- Ah!... - exclamou Debray. - É portanto um conselho que me pede?
- Sim, é um conselho que lhe peço - respondeu a baronesa, com o coração apertado.
- Então se é um conselho que me pede - respondeu friamente o rapaz -, aconselho-a a ir viajar.
- Viajar!... - murmurou a Sr.ª Danglars.
- Certamente. Como disse o Sr. Danglars, é rica e absolutamente livre. Uma ausência de Paris será indispensável, pelo menos segundo creio, depois do duplo escândalo da anulação do casamento de Mademoiselle Eugénie e do desaparecimento do Sr. Danglars. A única coisa que interessa agora é que toda a gente a saiba abandonada e a julgue pobre; porque ninguém perdoaria à mulher do falido a sua opulência e o estadão da sua casa. Para o primeiro caso, basta que fique apenas quinze dias em Paris e que repita a toda a gente que foi abandonada. Diga-o às suas melhores amigas, que elas se encarregarão de espalhar na sociedade como tal abandono se deu. Depois, deixará o seu palácio, e nele as suas jóias, renunciará a qualquer indemnização, e toda a gente elogiará o seu desinteresse e lhe cantará louvores. Então, sabê-la-ão abandonada e considerá-la-ão pobre, porque só eu conheço a sua situação financeira e estou pronto a prestar-lhe contas como leal associado.