O Conde de Monte Cristo - Cap. 106: A partilha Pág. 992 / 1080

Pedir-lhe-ei que olhe de vez em quando para mim, e se me der a sua palavra de que o fará e apreciar o meu comportamento, dentro de seis meses serei oficial ou estarei morto. Se for oficial, o seu futuro estará assegurado, minha mãe, porque terei dinheiro para si e para mim, e além disso um novo nome de que ambos nos orgulharemos, pois esse será o seu verdadeiro nome. Se morrer... Bom, se morrer, então, minha mãe, morra também, se quiser, e as nossas desventuras acabarão devido ao seu próprio excesso.

- Está bem - respondeu Mercédès, fitando-o com o seu nobre e eloquente olhar. - Tens razão, meu filho: provemos a certas pessoas que nos observam e esperam os nossos actos para nos julgar, provemo-lhes que somos pelo menos dignos de lástima.

- Mas nada de ideias fúnebres, querida mãe! - exclamou o jovem. - Juro-lhe que somos, ou pelo menos que podemos ser felizes. A senhora é ao mesmo tempo uma mulher cheia de inteligência e resignação; eu adquiri gostos simples e modestos, creio. Uma vez ao serviço, estarei rico; uma vez na casa do Sr. Dantès, a senhora estará tranquila. Tentemos! Peço-lhe, minha mãe, tentemos.

- Pois sim, tentemos, meu filho, porque tu deves viver, porque deves ser feliz - respondeu Mercédès.

- Nesse caso, minha mãe, uma vez que as nossas divisões estão feitas, podemos partir hoje mesmo - acrescentou o rapaz, simulando uma grande descontracção. - Vamos, como já lhe disse, marquei-lhe lugar.

- E o teu, meu filho?

- Eu devo ficar ainda dois ou três dias, minha mãe. É um princípio de separação e temos de nos ir habituando a isso... Preciso de algumas recomendações, de algumas informações acerca de África, e irei ter consigo a Marselha.

- Pois sim, partamos! - exclamou Mercédès, envolvendo-se no único xaile que trouxera e que por acaso era de caxemira preta de alto preço. - Partamos!

Albert guardou à pressa os seus papéis, tocou para pagar os trinta francos que devia, ofereceu o braço à mãe e desceram a escada.

Alguém descia adiante deles; esse alguém, ao ouvir o ruge-ruge de um vestido de seda virou-se.

- Debray! - murmurou Albert.

- Morcerf! - exclamou o secretário do ministro, parando no degrau em que se encontrava.

A curiosidade levou a melhor em Debray sobre o seu desejo de conservar o incógnito. De resto, já fora reconhecido.

Além disso, tinha a sua piada encontrar naquele prédio ignorado o rapaz cuja triste aventura acabava de causar tão grande escândalo em Paris.

- Morcerf? - repetiu Debray.

Depois, notando na semi-obscuridade o aspecto ainda jovem e o véu negro da Sr.ª de Morcerf, acrescentou com um sorriso:

- Oh, perdão! Deixo-o, Albert...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069