- E depois ... nos Campos Elísios reside um cavalheiro muito, muito rico...
- Em casa de quem roubaste e assassinaste, não é verdade?
- Creio que sim.
- O Sr. Conde de Monte-Cristo?
- Foi o senhor que lhe citou o nome, como diz o Sr. Racine... Bom, devo lançar-me nos seus braços, apertá-lo muito ao peito e gritar: «meu pai! Meu pai!”, como diz o Sr. Pixérécourt?
- Deixemo-nos de gracejos - replicou gravemente Bertuccio - e que semelhante nome não seja pronunciado aqui como te atreveste a pronunciá-lo.
- Ora, ora! - exclamou Andrea, um pouco aturdido com a solenidade de Bertuccio. - Por que não?
- Porque a pessoa que usa esse nome está demasiado nas boas graças do céu para ser o pai de um miserável como tu.
- Oh, lá vêm as grandes palavras!...
- E de grandes efeitos, se não te acautelares!
- Ameaças!... Não as temo. Direi...
- Julgas que estás a lidar com pigmeus da tua espécie? - perguntou Bertuccio num tom tão calmo e com um olhar tão firme que Andrea ficou perturbado até ao fundo das entranhas. - Julgas que estás a lidar com os teus habituais companheiros das galés ou com os papalvos da sociedade?... Benedetto, estás em poder de uma mão terrível, mão que se quer abrir em teu proveito; aproveita a oportunidade. Não brinques com o raio que ela largou por um instante, mas em que pode voltar a pegar se tentares prejudicar-lhe a liberdade de movimentos.
- O meu pai... quero saber quem é o meu pai - insistiu o teimoso. - Morrerei por isso, se for preciso, mas sabê-lo-ei. Que me interessa a mim o escândalo, o bem... a reputação... a fama... como diz Beauchamp, o jornalista? Mas vocês, gente da alta, têm sempre alguma coisa a perder com o escândalo, apesar dos seus milhões e dos seus títulos nobiliárquicos... Portanto, quem é o meu pai?
- Vim cá para to dizer.
- Sim?! - exclamou Benedetto com os olhos cintilantes de alegria.
Neste momento a porta abriu-se e o carcereiro dirigiu-se a Bertuccio:
- Perdão, senhor, mas o juiz de instrução espera o preso.
- É o encerramento do meu interrogatório - disse Andrea ao digno intendente. - Ao diabo o importuno!
- Voltarei amanhã - disse Bertuccio.
- Pois sim - respondeu Andrea. - Sr. Gendarme, estou à sua disposição... Ah, querido senhor, deixe uma dezena de escudos na secretaria para que me forneçam aqui o que precisar!
- Assim farei - respondeu Bertuccio.
Andrea estendeu-lhe a mão. Bertuccio conservou a sua na algibeira e limitou-se a fazer soar algumas moedas de prata.