O celerado, com o simples auxílio de um galego, em que por vezes se ingere e chafurda o confidente de Fausto, arranca da fronte da alegre palmilhadeira de botinhas a grinalda de laranjeira em botão, que esperava a sua primavera, o seu abrir-se e rescender, no primeiro dia nupcial. Que tristeza! E ninguém fala disto senão eu, porque me cumpre fazer o elogio de Calisto Elói, que não fez coisa nenhuma daquelas.
Assim se ergueu, cuidou em aformosear a saleta, cuja decoração era menos de modesta. Saiu açodado ao armazém dos mais elegantes estofos, e comprou alfaias magníficas. O homem pasmava dos nomes daqueles objectos, nenhum dos quais soava portuguesmente.
— Porque chamam a isto chaise longue? — perguntava Calisto Elói ao engenheiro Margoteau.
— Porque chamam?!
— Sim; eu creio que se não ofende a França no caso de chamarmos a este móvel uma cadeira longa, ou uma preguiceira, que soa melhor. E étagère e console e tête-à-tête, e onaise? E é caríssimo tudo isto! A gente, pelos modos, de fora parte os objectos, também paga a lição de francês de samblador, que vem aqui aprender?
Sem embargo destes reparos, o oiro saiu-lhe generosamente da algibeira bem apercebida.
A pobre saleta do morgado, dentro em pouco, transformou-se em recinto digno de uma Ponce de Leão. Calisto, refestelado nos coxins elásticos da otomana, contemplava os restantes adornos do aposento, quando lhe chegou do correio carta da sua esposa.