D. Ifigénia, conduzida pelo braço de Calisto, e seguida de uma senhora de porte honesto e recomendável, que vinha a ser aquela D. Tomásia Leonor, em honra de quem as musas do defunto tenente suspiraram acrósticos. Mais atrás, iam duas criadas, e um servo fardado de casimira cor de pombo, com gola e canhões escarlates golpeados de listas amarelas, distintivos da libré dos Ponces de Leão de Espanha. Ifigénia foi surpreendida pelo seu gabinete de estudo, decorado de graciosas estantes e étagères, cheias de livros luxuosamente encadernados, acondicionados com tão elegante simetria que induziam muito mais à contemplação que à leitura. O restante daquela vivenda de fadas era por igual magnífico, em gosto e riqueza.
Calisto deu posse da casa a sua prima, e retirou-se ao hotel, para que ela sesteasse e se recobrasse da fadiga e calma da jornada.
Ao decair da tarde, o morgado foi bater à porta daquele éden. Ifigénia saiu-lhe ao encontro com um ramilhete de flores, e disse-lhe:
— Aqui tem as primícias do seu jardim, primo…
Calisto aspirou o aroma das flores, osculou a mão que lhas oferecera, e murmurou:
— Fechem-se os meus olhos, quando eu as puder ver sem lágrimas de gratidão. — Lágrimas… para quê? — volveu ela com meiguice. — As lágrimas deixemo-las aos infelizes. O primo não comparte do meu contentamento? Não vê que me realizou o meu sonho com tamanho excesso de delícias, que eu não me atrevera, sequer, a imaginar? Sinto-me ditosa!… Ainda não quis pensar um instante se estas alegrias podem descair em mágoas…