Em divórcio não quer que lhe falem. Diz que quer o seu homem e não há tirá-la daqui.
Prevejo os cruéis desgostos que te vai aí dar, além das vergonhas. Disse-lhe que não fosse, sem se vestir ao estilo das senhoras de Lisboa. Não quer. Aparece-te aí goticamente vestida, com o fatal vestido do casamento, e o fatal chapéu, que é um monstro de palha. Há dois anos te dizia eu que vestisses tua mulher senhorilmente. Respondias-me que os melhores enfeites de uma virtuosa são as virtudes. Agora, atura-a. Se ela aí for vestida de virtudes, dize lá a essa gente que se não ria dela.
E se tu tens de a ver a testilhas com essa diva, que enquanto a mim não é casta? Então é que elas são, primo Barbuda! Sobre arranhaduras, escândalo! A tua posição seria feita ludíbrio da canalha. Os jornais a fustigarem-te, e tu com a cabeça partida! Eu imagino-me na tua situação, e tenho horror.
Que hás-de tu fazer nesses apertos? Tens uma boa cabeça; mas eu estou mais a sangue-frio para te aconselhar. O meu parecer é que saias de Lisboa com essa dama, e vás para onde Teodora não te veja o rasto. Olha que vai com ela o tio Paulo Figueiroa de Travanca, besta finória que há-de dar contigo, se te não esconderes a bom recado.
A lealdade impôs-me o dever de te dar esta má notícia. Mais má seria, se ta levasse tua senhora. Sei que outra pessoa te faria reflexões inúteis; mas eu tenho obrigação de conhecer os homens. No entanto, faze o que teu bom juízo te sugerir.
Teu primo muito dedicado
Lopo.»
No dia seguinte, Calisto pediu licença à Câmara para retirar-se por algum tempo de Lisboa, a cuidar de sua saúde.
Ao outro dia embarcou para França.
Perguntava-lhe Ifigénia, contente da repentina deliberação:
— Porque é isto, primo? Nunca me falaste em visitarmos Paris!
— Quis dar-te o prazer da surpresa. As melhores coisas, muito pensadas antes de possuídas, desmerecem quando se possuem.