Avermelhava-se-lhe o rosto, quando lia o seu discurso acerca do luxo, e o outro mais tolo sobre a Lucrécia Bórgia do teatro lírico. A ciência moderna flagelava-o. Tinha ele escrito nos dois primeiros meses alguns cadernos de papel, no propósito de dar à estampa um livro contra o luxo. Releu com pejo a sua obra, e ordenou a um criado que queimasse o manuscrito. O criado não o queimou. Escondeu-o sem mau intento; e alguma vez saberá o mundo literário como aqueles papéis vieram à minha mão, e ainda me são deleite e lição de sã linguagem e sãs doutrinas.
Decorreram alguns meses sem sucesso que dê capítulo de algum interesse. Fechado o triénio da legislatura, Calisto Elói foi agraciado com o título de barão da Agra de Freimas, e carta de conselho. Sondou o ânimo de alguns influentes eleitorais de Miranda para reeleger-se pelo seu círculo. Disseram-lhe que o mestre-escola lhe hostilizava a candidatura, emparceirado com o boticário. Arranjou o barão dois hábitos de Cristo, que fez entregar, com os respectivos diplomas, aos dois influentes. Na volta do correio foi-lhe assegurada a eleição, que, de mais a mais, o Governo apoiava.
Por esta ocasião, Brás Lobato, reatada a amizade antiga, escreveu ao fidalgo uma carta em que, pouco menos de brutalmente, reproduzia os boatos correntes acerca do procedimento da Sra. D. Teodora com o seu primo Lopo de Gamboa.
O barão experimentou um mal-estar de espécie nova, que se desvaneceu a pouco e pouco, e só mui levemente se repetiu no dia seguinte.