Desviei-me algum tanto, Sr. presidente. Vou chegar-me à questão, e concluir, porque a hora me não permite delongas, nem a Câmara terá a benevolência de mas tolerar.
Invoco a atenção dos representantes do País para a mortal peçonha, que vai cancerando o maquinismo vital da nossa independência. Rédeas ao luxo! Tranquem-se as alfândegas às drogas estrangeiras. Carreguem-se de direitos as mercadorias que incitam o apetite e pervertem as condições melhormente morigeradas. Vistamo-nos do que podemos colher de nossas possessões, e do estofo que nossas fábricas podem dar. Sigam-se as leis velhas do último rei da dinastia de Avis. Coimem-se e castiguem-se os que venderem tecidos estrangeiros e os que os puserem em obra.
Um deputado: — Como redigirá o ilustre deputado semelhante absurdo de lei?
O orador: — Como redigirei? Facilmente. Como D. João II legislou a respeito das mulas dos frades. Ora aconteceu que os frades teimaram em cavalgar mulas. Que fez então o estomagado rei? Deu sentença de morte aos ferradores que ferrassem as mulas dos frades. E o caso foi que os desmontou.
Concluí, Sr. presidente.
O presidente: — Fica reservada para amanhã a palavra ao Sr. Dr. Libório de Meireles, e está fechada a sessão.
O Dr. Libório de Meireles era o deputado portuense que pedira a palavra, durante o discurso de Calisto Elói.
— Que sairá daquele arganaz? — perguntou o morgado da Agra ao abade de Estevães.
— Dizem que é moço de muita sabedoria, e que já escreveu livros.
Calisto sorriu-se e disse:
— Estou bem aviado, se ele já escreveu livros!