Dois mancebos galhofeiros, que estavam na loja, riram indelicadamente da inexperiência do sujeito desconhecido. Um deles, confiado na inépcia tolerante do provinciano ou suposto brasileiro, disse, a meia voz, ao outro:
— Quatro pés nunca vestiram luvas.
Calisto encarou neles com sorriso minacíssimo, e disse à luveira:
— As luvas são boa coisa para a gente não dar bofetadas com as mãos.
Os joviais sujeitos olharam-se com ar consultivo, sobre o despique digno da afronta, e tacitamente concordaram em se irem embora.
Ao meio-dia, entrou o morgado na Câmara, e fez sensação. As calças de xadrez eram uma das grandes desgraças, que a Providência, por intermédio do Sr. Nunes aljubeta, mandara a este mundo. Como se a substância não fosse já um crime de leso-gosto e lesa-seriedade, ainda por cima as pernas caíam sobre as botas em feitio de boca de sino, fadistamente.
A Câmara afogou o riso, salvo o Dr. Libório do Porto, que tirou de dentro esta facécia puxada à fieira do costumado estilo:
— Guapamente entrajado vem mestre Calisto! Faz-se mister saber que rolos de pragmáticas lhe impendem entre as botinas e as pantalonas. Certo, que o urso se pule e lustra. Bom seria que o cérebro se lhe vestisse de roupagens novas e hodiernos afeites!…
Foram festejados estes apodos pelos tolos mais convizinhos do Dr. Libório.
Calisto houve notícia da zombaria do doutor; a intriga política não perdeu lanço de acirrar o morgado contra Libório, que era governamental.
Nesta sessão fora dada ao deputado portuense a palavra, na discussão de uma proposta de lei sobre cadeias.