Calafrio - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 83 / 164

— Bom, creio estar na hora de me contar o que se passou... de me contar toda a verdade. Por que é que saiu de casa? Que é que estava a fazer lá fora?

Ainda vejo o sorriso que iluminou aquele rosto maravilhoso, os olhos muito claros e belos, os dentes muito brancos que brilhavam no escuro.

— Se lhe disser a razão, será que vai compreender-me? — Ao escutar aquilo, o meu coração deu um pulo. Iria ele mesmo dizer-me porquê? Fui incapaz de pronunciar uma Só palavra, limitando-me por isso a responder com um vago e repetido aceno de cabeça. Miles era a imagem viva da doçura, e, quando lhe acenava convidando-o a falar, senti estar perante um príncipe saído de um conto de fadas. No entanto, foi precisamente aquela candura que me deixou de pé atrás. Mostrar-se-ia ele assim tão calmo caso fosse mesmo contar-me a verdade?

— Bom — acabou ele por dizer ao fim de algum tempo —, exactamente para que a senhora fizesse o que fez.

— Como?

— Para que, por uma Só vez, ficasse a pensar que eu sou um rapaz mau! — Nunca esquecerei a alegria e a doçura com que Miles pronunciou esta última palavra, e muito menos a forma como, logo a seguir, ele se inclinou para me beijar a testa. Aquilo era praticamente o fim. Retribui o beijo, e, enquanto o abraçava, vi-me obrigada a fazer um esforço enorme para não gritar. Ele dera a única resposta que impedia qualquer tipo de especulações, e, ao ser obrigada a reconhecê-lo, não me restou outra alternativa para além de olhar em volta e inquirir:

— Isso significa que não chegou a despir-se?





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