Como poderei hoje explicar o estranho desenvolvimento da minha obsessão? Momentos houve em que teria sido capaz de jurar que, na minha presença mas sem que eu o pudesse ver, Miles e Flora recebiam a visita de seres que lhes eram familiares e queridos. Cheguei mesmo ao ponto de ter de conter-me para não gritar: «Eles estão aqui, estão aqui, meus patifes, e vocês não podem negá-lo!,> Mas este procedimento acabaria por provocar maiores estragos que qualquer outra coisa, e o certo é que os «patife» trataram de negar o grito que eu não chegara a lançar mostrando-se ainda mais sociáveis e meigos, embora esta ternura representasse uma prova evidente de que aqueles dois estavam a troçar de mim. Isto causou-me um choque ainda mais profundo que aquele por mim sentido quando, ao espreitar pela janela certa de que iria encontrar Quint ou Miss Jessel à luz das estrelas, os meus olhos haviam pousada no rapaz por cujo sossego eu velava, o qual de imediato me brindara com o mesmo sorriso encantador com que saudara a presença de Quint no torreão. Se quisermos falar de medo, então posso dizer que, de tudo o que até ao momento me acontecera, foi precisamente isto que mais me assustou, e foi num estado de autêntico Fanico que acabei por tirar as minhas conclusões. Estas incomodavam-me tanto que em alguns momentos me fechei no quarto no intuito de ensaiar — e por aqui se pode ver o estado de desespero a que chegara — qual a melhor forma de agir com vista a pôr ponto final à situação. Trancada entre aquelas quatro paredes, abordava o problema a partir de todos os pontos possíveis e imagináveis, mas acabava sempre por dar por mim a pronunciar nomes que me eram detestáveis. Assim que estes morriam nos meus lábios, dizia para comigo que estaria a contribuir para a representação de algo infame, caso cometesse a indelicadeza de os repetir em voz alta na sala de aulas. Bastava-me pensar algo como isto: «Eles saberá ficar calados, ao passo que tu te rebaixas ao ponto de querer falar!», para de imediato corar com violência e cobrir o rosto com as mãos.
