- Não vai negar que é a minha querida Senhora Michu? - disse ele.
Marta cerrou o punho mal sentiu a mão do senador, dando-lhe um vigoroso soco no peito. Depois, sem dizer palavra, cortou uma pernada de árvore bastante forte, na ponta da qual estendeu ao senador o resto das provisões.
- Que querem de mim? - perguntou ele.
Marta desapareceu sem responder. Ao regressar a casa, estava pelas cinco horas, na orla da floresta, onde foi prevenida por Couraut da presença de um importuno. Arrepiou caminho e dirigiu-se para o pavilhão onde por tanto tempo vivera; mas quando desembocava na avenida foi vista de longe pelo, guarda-campestre de Gondreville; então resolveu caminhar direita a ele.
- Muito madrugadora é. Senhora Michu! disse-lhe ele, abordando-a.
- Tão desgraçados somos que me vejo obrigada a fazer o trabalho de uma criada; vou a Bellache comprar sementes.
- Então não tem sementes em Cinq-Cygne? - interpelou-a o guarda.
Marta não respondeu. Prosseguiu o seu caminho, e, ao chegar à quinta de Bellache, pediu a Beauvisage que lhe desse algumas sementes, dizendo-lhe que o Senhor de Hauteserre lhe recomendara que as fosse aÚ buscar para renovar as espécies. Logo que Marta partiu, o guarda de Gondreville veio à quinta informar-se do que lá fora fazer a mulher de Michu. Seis dias depois, Marta, mais prudente, foi logo pela meia-noite levar as provisões para não ser surpreendida pelos guardas, que evidentemente vigiavam a floresta. Já ela levara por três, vezes alimentos ao senador quando a tomou uma espécie de pânico ao ouvir ler ao cura os interrogatórios públicos dos acusados, pois já então, tinham principiado os debates. Chamou o abade Goujet de parte e depois de o fazer jurar que guardaria segredo acerca do que lhe ia dizer, como se de uma confissão se tratasse, mostrou-lhe os Pedaços da carta que recebera de Michu, comunicou-lhe o seu conteúdo, e iniciou-o no segredo do esconderijo onde estava o senador.