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Abordou estas hipóteses com uma habilidade extraordinária. Insistiu em chamar a atenção sobre a moralidade das testemunhas de defesa, cuja fé religiosa era tão viva, que acreditavam num futuro, em penas eternas. Neste ponto foi sublime e soube comover profundamente.
- Pois quê! - exclamou ele - estes criminosos jantam tranquilamente ao saberem, pela prima, do rapto do senador! Quando o oficial da gendarmaria lhes sugere a forma de acabarem com tudo aquilo, recusam-se a entregar o senador, não sabem o que pretendem deles!
Então deixou perceber que havia por detrás daquilo tudo um caso misterioso, cuja chave estava nas mãos do tempo, que acabaria por desmascarar aquela injusta acusação. Uma vez neste terreno, teve a audaciosa e engenhosa habilidade de se supor jurado: narrou a deliberação com os colegas, apresentou-se como o maior dos desgraçados no caso de ter sido responsável de cruéis condenações e o erro vir a ser conhecido; tão bem ou tão mal pintou os seus remorsos e repisou as dúvidas que a defesa nele provocaria, com tanta persuasão o fez, que mergulhou os jurados numa horrível ansiedade.
Os jurados ainda não estavam escalados com aquela espécie de alocuções, que tinha então o encanto das coisas novas, e o júri sentiu-se abalado. Depois do caloroso discurso do Senhor de Granville, os jurados tiveram de ouvir o fino e especioso procurador, que multiplicou a~ considerações, fez avultar todos os aspectos tenebrosos do processo e o tornou inexplicável. Conduziu-se de forma a impressionar a sensibilidade e a razão, tal como o Senhor de Granville atacara o coração e a imaginação. Enfim, soube enrodilhar os jurados com uma convicção tão séria que o acusador público viu os seus andaimes por terra. Tão claro foi que o advogado dos Senhores de Hauteserre e de Gothard se entregou nas mãos da prudência dos jurados, achando que a acusação que pesava sobre eles pouco ou nada valia.