- A Maria na encontra-se no campo com a vaca, e o Gaucher...
- Onde está o Gaucher? - inquiriu ele.
- Não sei.
- Tenho cá as minhas desconfianças desse maroto; vai ao sótão, espiolha tudo, e procura-o bem no pavilhão.
Marta saiu e fez o que o marido lhe recomendara. Quando voltou encontrou este de joelhos, a rezar.
- Que tens tu? - perguntou ela, assustada. O administrador deitou as mãos à cinta da mulher, puxou-a para si, beijou-a na testa e respondeu-lhe, em voz comovida:
- Se nos não tornarmos a ver, quero que fiques sabendo, minha pobre mulher, que eu gostava muito de ti. Segue, ponto por ponto, as instruções escritas numa carta enterrada ao pé do larício daquele maciço - disse ele, após uma pausa, apontando-lhe para uma árvore -; está metida num canudo de lata. Não lhe toques senão depois da minha morte. Enfim, aconteça o que acontecer, fica certa, apesar da injustiça dos homens, que o meu braço esteve ao serviço da justiça de Deus.
Marta, que ia cada vez empalidecendo mais, ficara branca como uma mortalha; fitou o marido com uns olhos fixos, que o pavor faziam maiores; queria falar, mas tinha securas na garganta. Michu desapareceu como uma sombra; amarrara aos pés da cama Couraut, que se pôs a uivar como uivam os cães danados.