Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 6: VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO

Página 55
E olhava, ora o velho relógio de Boulle, em cima da prateleira da chaminé, entre dois candelabros de flores, procurando inteirar-se, pela hora, se os quatro conspiradores já estariam deitados, ora a mesa de jogo diante do fogão onde o Senhor de Hauteserre e a mulher, o cura de Cinq-Cygne e a senhora sua irmã jogavam o boston.

Mesmo que estas personagens não estivessem incrustadas no drama, o certo é que as suas cabeças teriam ainda o mérito de representarem um dos aspectos que assumiu a aristocracia depois da derrota de 1793. Sob esse ângulo, a pintura do salão de Cinq-Cygne tem qualquer coisa do sabor da história em pantufas.

O gentil-homem, então com os seus cinquenta e dois anos, seco, sanguíneo e de uma saúde de ferro, daria a impressão de um forte vigor se não fossem os grandes olhos de um azul de porcelana cujo olhar denunciava uma extrema simplicidade. No seu rosto, rematado por um queixo de velha, existia, entre o nariz e a boca, um espaço excessivo, tendo em vista as leis do desenho, que lhe dava um ar de submissão, em perfeita harmonia com o seu carácter, com o qual estavam de acordo os mínimos pormenores da fisionomia.

Assim, a sua cabeleira grisalha, calafetada pelo chapéu, que ele trazia enfiado o dia inteiro, por assim dizer, formava-lhe na cabeça como que uma calote, desenhando-lhe o contorno piriforme. A testa, muito enrugada, consequência da sua vida aldeã e das muitas preocupações, era chata e sem expressão. O nariz aquilino realçava-lhe um pouco a cara; o único índice de força em toda a sua fisionomia encontrava-se nas sobrancelhas tufadas, que continuavam pretas, e no colorido muito fresco da sua pele; mas este indício não iludia ninguém; aquele gentil-homem, conquanto simples e manso, tinha a sua fé monárquica e católica e seria capaz de o fazer mudar de partido.

<< Página Anterior

pág. 55 (Capítulo 6)

Página Seguinte >>

Capa do livro Um Caso Tenebroso
Páginas: 249
Página atual: 55

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - OS JUDAS 1
II – PROJECTO DE UM CRIME 16
III - AS MALÍCIAS DE MALIN 25
IV - FORA A MÁSCARA! 35
V – LAURENCE DE CINQ-CYGNE 43
VI - FISIONOMIAS REALISTAS NO TEMPO DO CONSULADO 54
VII - A VISITA DOMICILIARIA 67
VIII-UM RECANTO DA FLORESTA 78
IX - DESDITAS DA POLÍCIA 90
X - LAURENCE E CORENTIN 104
XI - DESFORRA DA POLÍCIA 117
XII - UM DUPLO E MESMO AMOR 128
XIII – UM BOM CONSELHO 140
XIV -AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO 151
XV - A JUSTIÇA SEGUNDO O CÓDIGO DE BRUMÁRIO DO ANO IV 159
XVI - AS DETENÇÕES 168
XVII - DÚVIDAS DOS DEFENSORES OFICIOSOS 178
XVIII – MARTA COMPROMETIDA 190
XIX-OS DEBATES 196
XX – HORRÍVEL PERIPÉCIA 212
XXI - O BIVAQUE DO IMPERADOR 222
XXII-DISSIPAM-SE AS TREVAS 236