Um Caso Tenebroso - Cap. 1: I - OS JUDAS Pág. 6 / 249

Internamente, este pavilhão era dividido por uma' velha escadaria de madeira carunchosa, mas cheia de carácter, que conduzia ao primeiro andar, onde havia cinco quartos de pé direito muito baixo. Por cima corria um imenso sótão.

Este venerável edifício é coberto por um desses grandes telhados de quatro águas cuja aresta se apresenta ornada de dois ramos de chumbo e perfurada por quatro clarabóias, coisa de que Mansard muito gostava, e com razão, pois, em França, o ático e os telhados chatos à italiana são .um contra-senso contra o qual o clima protesta. Michu r guardava ali as suas forragens.

É à inglesa toda aquela parte do parque que rodeia o velho pavilhão, A cem passos, um antigo lago, agora um tanque razoavelmente empestado, atesta a sua existência quer com uma ligeira neblina por cima das árvores, quer com o coaxar ao pôr-do-sol de milhares de rãs, sapos e outros anfíbios tagarelas. A vetustez das coisas, o profundo silêncio dos bosques, a perspectiva da avenida, a floresta ao longe, milhares de pormenores, as grades comidas de ferrugem, as massas de cantaria corroídas pelos musgos, tudo poetiza esta construção que ainda' não deixou de existir.

Na' altura em que esta história começa, Michu estava apoiado a um parapeito musgoso, em cima do qual se via o seu polvorilho, o seu barrete, um lenço, uma desandadeira, trapos, numa palavra, toda a utensilagem necessária àquela suspeita operação. A mulher sentava-se numa cadeira encostada à porta exterior do pavilhão, por cima da qual ainda se viam as armas dos Simeuse ricamente esculpidas, com a sua bela divisa: Aqui morremos! A mãe verdadeira camponesa, aninhava-se diante da Senhora Michu, para que esta pudesse ter os pés defendidos contra a humidade, apoiando-se numa das travessas da cadeira em que ela se sentava.





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